Saúde e Bem-Estar

Síndrome de gigantes

Jennifer Koppe - jenniferk@gazetadopovo.com.br
24/08/2008 03:01
O comerciante Anderson Ribas Silva, 29 anos, sempre foi alto. Com 2,12 metros de altura, jogou vôlei profissionalmente até os 21 anos. Sempre foi ativo, saudável e nunca se incomodou com a altura. Mas há três anos, Anderson começou a sentir dores nos olhos e procurou um neurologista. Foi quando descobriu que tinha acromegalia, uma doença rara causada pela produção excessiva do hormônio de crescimento (GH), que quase sempre está associado a um tumor benigno encontrado na hipófise, glândula de secreção interna situada no cérebro.
Quando o hormônio de crescimento é produzido em excesso durante a infância, fase em que as cartilagens de crescimento ainda estão abertas, ocorre um aumento exagerado de estatura – o caso do Anderson – que recebe o nome de gigantismo.
Na acromegalia, o hormônio do crescimento é produzido na fase adulta, quando as cartilagens já estão inativas, por isso apenas as extremidades aumentam de tamanho, principalmente mãos, pés e partes da face como queixo, testa e nariz.
Foi o que aconteceu com a servidora pública Luciane Sávio, de 38 anos. Pouco depois do parto de sua filha, começou a sentir fortes dores de cabeça, causadas pelo crescimento da face. Só que, ao contrário de Anderson, que foi informado de sua condição logo nas primeiras consultas, Luciane levou cinco anos para descobrir a doença. “Fui à dezenas de médicos, fiz inúmeros exames e cheguei a tomar antidepressivo para me livrar das dores, mas ninguém conseguia descobrir o que eu tinha”, conta.
Luciane percebia que, aos poucos, o seu corpo estava se modificando. As mãos e o rosto estavam inchados, o ciclo menstrual desregulado, o pé tamanho 36 passou a calçar 38 e ela ganhou cerca de dois centímetros na altura. “Mas estes sinais coincidiram com a minha pós-gestação, por isso, não me preocupei. Depois de alguns anos, vários familiares perceberam mudanças na minha fisionomia, mas pensaram que eu estava abatida por causa das dores que sentia”, lembra.
Tumores na hipófise que alteram ou não a produção de GH provocam a secreção de prolactina nas mamas de homens e mulheres. Este sintoma foi o responsável por chamar a atenção da ginecologista de Luciane, que a encaminhou a um endocrinologista.
Quem cuidou dos casos de Anderson e Luciane foi o professor adjunto de Endocrinologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Cesar Luiz Boguszewski, médico do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital de Clínicas, por onde já passaram cerca de 112 pacientes com a doença.
Assim como Luciane, vários outros pacientes tiveram a mesma dificuldade de chegar a um diagnóstico. “Os sintomas se manifestam lentamente, assim como as deformidades. Dificilmente quem tem a doença – ou até mesmo a família – consegue notar alguma alteração no início. Mesmo quando percebe mudanças, acredita que tenha relação com o aumento de peso ou com o envelhecimento”, explica a endocrinologista do Hospital Santa Casa Salma Parolin, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Cesar Boguszewski revela que mesmo profissionais de outras especialidades têm dificuldade em identificar a doença. “Já existe uma campanha para informar não só a população, mas também neurologistas, ginecologistas e até dentistas sobre a acromegalia. Apenas 10% dos portadores da doença procuram um médico por causa dos sintomas. Quase sempre ela é descoberta por acaso.”
Não há como prevenir a manifestação da acromegalia, mas 98% dos tumores que causam a doença são benignos e na maioria dos casos podem ser retirados por meio de cirurgia. Anderson retirou o tumor há pouco mais de um mês. “No dia seguinte, já senti a diferença. As minhas mãos e pés desincharam e as dores foram embora. Em duas semanas já estava em casa”, relata Anderson. O mesmo aconteceu com Luciane. “Foi como se tivesse sido tirado com a mão. Os meus dedos e o meu rosto afinaram e nunca mais senti dor. A estrutura óssea que cresceu não diminuiu, continuo calçando 38, mas voltei a ser eu mesma.”
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