Em 2018, as exportações de cachaça do Brasil para o bloco europeu somaram US$ 7,84 milhões. No mesmo período, as importações de bebidas provenientes de cana-de-açúcar pelo Velho Continente chegaram a US$ 1,22 bilhão.| Foto: Pixabay

O anúncio de acordo comercial entre Mercosul e União Europeia animou os alambiques brasileiros, que estão de olho no maior mercado mundial para destilados. Além do benefício da redução de tarifas, a indústria comemora o reconhecimento por parte dos europeus de que a cachaça é originária do Brasil, o que garante que não possa ser produzida fora do país ou conter ingredientes que não sejam cana-de-açúcar. Se contiver, não poderá ser comercializada com o nome de cachaça.

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Essa garantia de indicação geográfica é uma tendência que já ocorre com outras bebidas típicas de algumas regiões do mundo, como a tequila, do México, o Scotch Whisky, do Reino Unido, ou o Champagne, da França. “A União Europeia é o principal mercado de destilados e onde nasceu o conceito de produtos tradicionais. Ter a cachaça protegida lá significa garantir que só os brasileiros poderão produzi-la. E a UE é a grande defensora dessa proteção de indicação geográfica”, afirma Carlos Lima, diretor executivo do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac). Segundo ele, há 10 anos o setor vem trabalhando junto ao governo brasileiro para buscar esse reconhecimento. Além do bloco europeu, Estados Unidos, Colômbia, México e Chile já reconhecem a cachaça como um produto tupiniquim.

Apesar de o setor ainda não ter uma estimativa de quanto as exportações brasileiras de cachaça para a UE devem crescer nos próximos anos, os números dão uma boa ideia do tamanho do mercado europeu. Em 2018, a exportação da nossa cachaça para o bloco foi de US$ 7,84 milhões. No mesmo período, as importações de bebidas provenientes de cana-de-açúcar pelo Velho Continente somaram US$ 1,22 bilhão, ou seja, há muito potencial para crescer, segundo o Ibrac. No ano passado, a cachaça gerou uma receita total de exportações de US$ 15,61 milhões (8,4 milhões de litros), valor que representa uma queda de 3,8% em relação a 2017 (8,7 milhões de litros exportados).

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Um encontro da Câmara Setorial da Cachaça no próximo dia 10, em Brasília, deve revelar mais detalhes do acordo comercial, já que nem o próprio setor tem informações detalhadas sobre a questão tarifária da cachaça, conforme explica José Otávio de Carvalho Lopes, presidente da Associação Nacional dos Produtores e Integrantes da Cadeia Produtiva e de Valor da Cachaça de Alambique (Anpaq). Entretanto, ele acredita que o reconhecimento da bebida brasileira por si só já é um fato histórico e deve impulsionar as exportações.

Nesta segunda-feira (8), o Ministério da Agricultura anunciou que garrafas de cachaça com volume inferior a 2 litros terão o comércio liberalizado no bloco europeu em 4 anos. "A cachaça a granel terá quota de 2.400 toneladas com intraquota zero e volume crescente em 5 anos. Atualmente a aguardente paga alíquota de aproximadamente 8%", informou o ministério.

Havendo redução das taxas sobre outras bebidas estrangeiras, no entanto, elas também poderão competir com os destilados brasileiros, dificultando a inserção dos pequenos produtores de cachaça, especialmente os de alambique. “A gente não sabe ainda como vai funcionar a liberação dos impostos de um lado e de outro”, observa Lopes. Para Carlos Lima, o reconhecimento de outras bebidas com indicação geográfica não deve prejudicar os produtores de cachaça. É o caso do “Se queremos que esses mercados respeitem a nossa cachaça, temos que respeitar os produtos deles também”, sintetiza.

A capacidade brasileira de produção do destilado para atender a uma futura demanda não representa um problema, segundo os representantes do setor. De acordo com o Ibrac, a capacidade instalada no país hoje é para produzir 1,2 bilhão de litros da bebida, mas a operação chega no máximo a 700 milhões de litros. “Podemos fazer da cachaça um polo exportador do Brasil, gerando renda e emprego. Hoje são 600 mil pessoas que trabalham apenas com a cachaça de alambique no país”, afirma José Lopes. Some-se a isso a qualidade original da nossa cachaça, seja a produzida em alambique ou em escala industrial (de coluna), e ainda com muito potencial a ser explorado. É o caso dos mais de 30 tipos de madeiras nacionais para se fazer o envelhecimento dos destilados.

Feito para exportar

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Segundo Lopes, o destino dos produtos com indicação geográfica é essencialmente o mercado externo. “Para se ter uma ideia, a tequila é 80% exportada. Do que produzimos de cachaça no Brasil só 1% do volume é exportado. E desse 1%, 90% é cachaça industrial. Do ponto de vista de aumento da exportação, há uma boa chance de dar uma alavancada na cachaça de alambique”, diz.

No caso do mercado norte-americano, apesar de não haver reconhecimento da indicação geográfica por lá como forma de proteção, a cachaça foi reconhecida como um produto distinto do Brasil, o que é um instrumento legal válido de proteção. Apesar de o produto brasileiro ter garantias nos dois maiores mercados – União Europeia e EUA – ainda é preciso trabalhar a proteção em países como a China, por exemplo, que têm grande potencial de consumo para o destilado tupiniquim. “Precisamos adotar estratégias como a do Scotch Wisky e defender o nosso produto em qualquer lugar do mundo, mesmo que não represente um grande mercado consumidor, porque qualquer problema que ocorra ali pode impactar na imagem da nossa cachaça”, finaliza.

Importações de bebidas destiladas com indicação geográfica na Europa (2018):

Cachaça – US$ 7,84 milhões

Destilados de cana-de-açúcar (incluindo cachaça) – US$ 1,22 bilhão

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Cognac – US$ 3,7 bilhões

Scotch Whisky – US$ 6,05 bilhões