A agricultura familiar tem uma peculiaridade no Rio Grande do Sul: o tabaco lidera na questão do faturamento o cultivo em áreas rurais do setor no Estado. A cultura concentra em território gaúcho 50% da produção nacional, e dos 10 maiores plantadores, sete também estão no Estado.
Uma das explicações para essa preferência pelo tabaco em pequenas áreas é que a cultura precisa ser trabalhada por mão de obra intensiva, outra característica associada à agricultura familiar. O Brasil é o segundo maior produtor da cultura (China é o primeiro) e o maior exportador mundial.
A Expedição da Agricultura Familiar finalizou a primeira etapa do projeto, na Região Sul, visitando o município de Venâncio Aires, tradicional reduto de fumicultores gaúchos na região central do Estado.
Mais de 7 mil famílias vivem na área rural, sendo 98% pertencentes à agricultura familiar. "O tabaco tem a lucratividade boa, mas não é só do tabaco que vive o pequeno agricultor, tem outras culturas como milho, soja, avicultura, pois o mercado varia muito então é preciso ter variedade na propriedade", diz o chefe da Emater em Venâncio Aires, Vicente João Fim.
O tabaco chama a atenção do produtor, pois não é preciso plantar em grande quantidade para obter um lucro alto. Neste ano, os 9.500 hectares plantados de tabaco em Venâncio Aires e região registraram faturamento entre R$ 15 mil a R$ 16 mil por hectare.
Já o milho, outra cultura de destaque no município, é plantado em 12 mil hectares, mas a renda varia entre R$ 3 mil a R$ 3,5 mil por hectare. A propriedade do casal Eroni Erno Gaertner e Marli Metz Gaertner tem diversificação, com milho, aves, gado e frutas, mas não poderia faltar também o tabaco.
A propriedade tem 17 hectares e eles moram no local há 39 anos. De lá pra cá a forma de cultivo sempre foi a mesma. O único filho, Erli Neri Gaertner, 38 anos, cuida da parte pesada na lavoura. "Meus pais fazem o serviço básico sem muito esforço. O pai não aguenta mais o serviço pesado. Os dois já estão aposentados. Eu cuido de tudo pra eles e minha esposa ajuda", relata.
Em 3 hectares e meio da propriedade, foi plantado o tabaco, com lucro de R$ 35 mil líquidos. O milho plantado em 10 hectares rendeu 1200 sacas. Um terço é para o consumo próprio da família. O restante, cerca de 1 mil sacas, rendeu R$ 17 mil líquidos. Das 43 cabeças de gado, 12 foram vendidas, a preço de R$ 2 mil brutos (R$ 1 mil líquidos).
Diversificação e tabaco
"O produtor hoje em dia não pode viver só do tabaco, mas também não pode
deixar de ter na propriedade. A gente tem essa variedade para se manter melhor,
o mercado muda muito. O tabaco pelo pouco que planta ainda gera mais lucro, mas
o produtor precisa se alimentar também, na nossa propriedade dividimos
comercialização e consumo", afirma Erli.