Números oficiais apontam que a assistência técnica é um dos grandes desafios para a consolidação da agricultura familiar como agente de desenvolvimento agrícola do país. Se ela é expressiva em números de trabalhadores, financeiros e de receita, o mesmo não se pode verificar quando o assunto é o atendimento especializado nas propriedades. Em média, apenas 20% das propriedades contam com esse serviço no país. É justamente a assistência técnica que faz a diferença no sucesso do agronegócio brasileiro nos mercados externos.
É com uma orientação especializada que o produtor pode incrementar sua atividade rural, racionalizar processos de produção, proteger recursos naturais e obter novas receitas. “O grande desafio, com a questão do crédito resolvida, é a assistência técnica. Apenas 20% dos agricultores são assistidos. A gente vai precisar levar para as pequenas e médias propriedades esse trabalho. Não é só uma responsabilidade do governo federal. Todas as cadeias terão de se organizar melhor, como os governos estaduais, os municípios e as empresas”, afirmou à Gazeta do Povo o secretário Nacional da Agricultura Familiar e Cooperativismo, Fernando Schwanke.
De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a região Sul tem a melhor cobertura de assistência, mas não chega à metade das propriedades, com 48,6% de atendimento. O Nordeste tem apenas 7,4% de estabelecimentos rurais atendidos pelo serviço.
“Mais importante do que ter crédito, é ter uma assistência técnica qualificada, com politica de acesso a mercado e canais de comercialização que gerem renda e rentabilidade”, afirma Kleber Santos, coordenador nacional das 27 Câmaras de agronomia (CCAGRO) do Sistema Confea/Crea, além de presidente da Confederação dos Engenheiros Agrônomos do Brasil.
Empreendedorismo e novas tecnologias
A agricultura familiar, aponta Kleber, é uma característica que marca a atividade do pequeno agricultor. Por ter menor capital para manter sua atividade, o setor necessita de uma ação diferenciada para atacar suas carências.. “O agricultor familiar precisa receber um olhar diferenciado nas políticas publicas, pois o setor tem suas vulnerabilidades também.”
Rafael Zavala, representante da FAO no Brasil, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, afirma que o grande desafio da agricultura familiar é ser um setor que possa desenvolver seu potencial empreendedor. “Aquela agricultura familiar voltada para o autoconsumo vai estar cada vez mais na imaginação dos acadêmicos. Há muitos que creem nisso ainda. Hoje ela é muito mais dinâmica e na maior parte dos casos está vinculada ao mercado”, afirma Zavala.
A adoção de tecnologias adequadas ao ambiente onde a agricultura familiar está inserida é outro ponto de virada, na opinião do representante da ONU. Um dos desafios é ter a tecnologia adequada. É uma prioridade de nosso diretor-geral”, diz Zavala. O dirigente da FAO cita como exemplo a adoção de ferramentas digitais que tratem do manejo e do cultivo. “Poderá se saber de onde veio esse produto que está comendo e com qual família está se colaborando.”
De acordo com dados da FAO, cerca de 9% da população mundial é afetada pela falta de comida. A luta contra a fome atinge 821 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, das quais 600 milhões tem insegurança moderada. “São pessoas que em algum momento tem fome”, diz Zavala. O dirigente diz que a agricultura familiar, por suas características naturais, tem condições de entrar nesta luta, desde que suas carências, como de uma assistência mais presente, sejam supridas.