No pequeno espaço de terra que possui em Arapiraca, região central de Alagoas, a aposentada Irene Henrique da Silva, 74 anos, consegue produzir verduras, legumes e frutas para si, para o casal amigos que mora com ela e até para os vizinhos, mesmo tendo apenas 1 hectare para plantar. Viúva e sem filhos, Irene mostra com orgulho os mamões colhidos no quintal. O terreno deve se tornar ainda mais produtivo com a chegada de uma bomba elétrica, única peça que falta para completar o sistema de irrigação implantado e que permitirá à idosa dispensar o trabalho diário de regar os cultivos à mão.
O sistema, que inclui uma cisterna, a bomba e uma calçada para captação de água da chuva, deve garantir uma caixa d´água e fitas de gotejamento, faz parte do programa Água para todos, cujo objetivo é garantir a segurança alimentar de famílias do Agreste alagoano. “Além da cisterna e da bomba, fazemos o arranjo produtivo, mas é preciso ter uma caixa d´água para jogar a água da cisterna para cima e poder fazer a irrigação por gotejamento, evitando que precise ficar regando a lavoura o tempo todo”, explica Noaldo Gomes Araújo, biólogo e diretor presidente do Instituto Terraviva, que conduz o projeto. O Água para todos já beneficiou cerca de 750 famílias no Agreste, segundo ele.
Além da cisterna, Irene possui ainda uma outra solução, também implantada com o auxílio do Terraviva, que são as fossas ecológicas. Conforme explica Araújo, trata-se de uma bacia de evapotranspiração, cuja função é captar o resíduo de esgoto doméstico e jogar em uma espécie de fossa, onde é filtrado por areia e brita e depois a água é captada pelas raízes de plantas, usando, portanto, os efluentes para produzir bananas e mamões, como os que Irene nos mostra orgulhosa. Segundo o biólogo, uma touceira de banana consome até 300 litros de água por dia. “Essa bacia nunca vai ter problema de encher ou de dar mau cheiro, e ainda produz alimento saudável”, garante.
“No inverno temos muita verdura aqui. Mas agora ainda não temos a irrigação, porque falta ligar a bomba. Aí sim o senhor vai ver como vai ficar bonito isso daqui”, afirma a agricultora. De acordo com o Terraviva, já foram instaladas perto de 300 fossas ecológicas no Agreste alagoano.
Situada numa região onde o forte da agricultura é a plantação de fumo (80%), Irene se orgulha não usar agroquímicos nas culturas que produz. “Aqui não tem veneno”, reitera. De acordo com Araújo, outra solução modelo implantada na propriedade da produtora foi o quintal produtivo, onde há o plantio consorciado de diversas frutas e hortaliças, garantindo a sustentabilidade da família e a segurança alimentar, com produção constante o ano todo.
A terra tem fome e sede
As mesmas soluções foram implantadas na propriedade de José Otávio dos Santos, uma área de 1,5 hectares onde está começando o processo de irrigação para poder produzir e vender suas hortaliças. Por enquanto, a água vem de um poço artesiano do vizinho. Mas a cisterna e o calçadão para coleta da água da chuva já estão prontos.
“A terra aqui é fraca, não é de primeira, precisa de algo para ela comer para produzir”, lamenta o agricultor, que vive há mais de 40 anos na região e é testemunha da condição pouco fértil e de umidade do solo. Ele reclama também dos custos para produção, especialmente com adubo e energia elétrica, além dos gastos com a implantação dos sistemas de irrigação.
Outro ponto que é limitador, segundo o produtor, é a ausência de assistência técnica. “A gente faz tudo aqui meio que na louca”, afirma. O programa Água para Todos prevê apenas a construção das cisternas e não o acompanhamento técnico. Segundo Araújo, cabe à Emater-AL fazer a extensão rural e acompanhamento dos produtores, mas não há continuidade após a implantação das estruturas.
Para piorar, José Otávio queixa-se que a prefeitura acabou com as feiras livres, deixando muitos agricultores na mão. “Tinha gente que só sabia fazer isso, e ficou sem ter o que fazer”, pontua. Entretanto, conforme explica Noaldo Araúdo, com o inicio do sistema de irrigação há um futuro promissor para os produtores da região, que poderão vender o excedente da produção para complementar a renda familiar.
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