Na agricultura, as engenharias se convergem. Trata-se de uma série de profissões capazes de ser abrigadas para responder às demandas de desenvolvimento do campo. O engenheiro agrônomo é sempre requisitado, inclusive pela formação generalista com amplitude de atribuições, mas a propriedade rural também pode acionar o conhecimento do engenheiro florestal, ou do engenheiro civil, mecânico, ambiental, elétrico e até mesmo do profissional ligado ao setor químico. Enfim, o setor agrícola está interligado a uma série de profissionais das engenharias para produzir e se desenvolver.
É uma atuação multidisciplinar (vários profissionais atuando em prol do mesmo setor ou projeto) e interdisciplinar (uma área ou projeto que acaba sendo comum a vários profissionais). Essa inter-relação garante qualidade, eficiência, competitividade e sustentabilidade, socioeconômica e ambiental. Num país referência como o Brasil no agronegócio, são profissões chamadas a contribuir com essa liderança.
“As engenharias têm importância fundamental para o desenvolvimento do campo. A possibilidade de crescimento da produção está ligada à ação dos engenheiros, seja na pesquisa ou no repasse da técnica. A capacidade de produção tem a ver com a ação das engenharias no campo”, define Raimundo Ulisses de Oliveira, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Piauí (Crea-PI).
Oliveira completa ao lembrar que “o Brasil é no mundo o único país tropical com várias tecnologias desenvolvidas para o campo, e muitas delas passam pelas engenharias”.
E o campo ainda representa uma vasta área de atuação para as engenharias no futuro. Um número se sobressai. Em média, apenas 20% das propriedades rurais do país contam com assistência técnica, o que dá uma ideia de como o setor agrícola precisa de profissionais habilitados para se desenvolver, principalmente nos pequenos estabelecimentos, os que mais carecem de orientação especializada.
“No estado do Amazonas, a assistência técnica e extensão rural são imprescindíveis para a constituição de uma agricultura sustentável do ponto de vista ambiental, econômico e social, de forma a agregar qualidade de vida às populações rurais”, afirma Eyde Cristiane Saraiva Bonatto, coordenadora da Câmara de Agronomia do Crea-AM (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Amazonas).
Além das intervenções para o desenvolvimento rural, a produção de conhecimento é essencial para a área acadêmica, que tem uma grande capilaridade para distribuir as informações e, com isso, contribuir com o trabalho de campo. “Essa transferência de tecnologia, contribui diretamente não somente ao aumento de oferta de alimentos, mas também alimentos com segurança alimentar, e a geração de emprego e renda no meio rural”, diz Eyde.
Engenharias na pesquisa de ponta
Enquanto países de clima temperado já consolidaram seus setores agrícolas, sem avanços de ponta na questão tecnológica, o clima tropical acaba incentivando um caminho inverso, estimulando as engenharias a encontrar cada vez mais novas intervenções. Essa tendência não está apenas nos grãos, mas em outros setores, como ressalta Aníbal Lacerda Margon, engenheiro agrônomo e conselheiro no Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia) pelo estado de Goiás.
“A agricultura tropical é diferente, pois no Brasil ela é pujante e alavancou muito na produção. O Brasil desponta como grande celeiro de produção de alimentos, e será cada vez mais. Não só de grãos, como fibras e bioenergia também, por exemplo”, afirma Margon.
Além da produção
Quando se menciona o setor agrícola brasileiro, não é difícil vinculá-lo aos recordes de produção, que já se tornaram conhecidos pelos registros de crescimento ano após ano. Mas as engenharias não são convocadas apenas para resolver situações que tenham apenas um vínculo direto com a expansão dos produtos agrícolas. É exatamente por isso que a convergência entre as engenharias e o campo é tão forte, por estarem juntos em cada canto da propriedade.
“Dentro do setor agroindustrial, existem várias modalidades de profissionais. Desde o plantio, do cuidado da lavoura, do saneamento básico ou de um planejamento para realizar o turismo rural. Ou seja, as engenharias são muito abrangentes na área agrícola. Elas não estão só vinculadas à produção”, destaca Valmor Pietsch, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Cascavel e presidente da Associação Brasileira dos Engenheiros Agrícolas (Abeag).
Legado e futuro
“Como você vai fazer uma cavalgada ou tomar banho num riacho, com água limpa? Tudo isso precisa de acompanhamento técnico”, acrescenta Pietsch, que também coordena o Colégio de Entidades Nacional (CDEN) e as Entidades de Classe do Oeste do Paraná (regional de Cascavel).
Se no aqui e agora, as engenharias exercem influência direto nos destinos do campo, tudo o que é colhido hoje também abre caminho para preparar avanços para o futuro. “As engenharias têm um papel fundamental para conservar para o futuro, deixando um legado para as novas gerações. Um profissional da engenharia está sempre evoluindo para recomendar ou não o que o produtor deve fazer”, ressalta Raimundo Nonato Lopes de Sousa, assessor técnico do Crea do estado da Paraíba. O “casamento” duradouro entre engenharias e o campo depende de algumas atitudes, pois trará resultados duradouros de acordo com Sousa. “Os produtores devem procurar a assistência técnica para produzir com qualidade, de maneira racional, limpa e sustentável. Não se pode atuar de qualquer jeito”.