O mercado nacional de rosas tem gigantes que dominam a produção. Centros como Holambra e Atibaia em São Paulo e Andradas em Minas Gerais estão em melhores condições de altitude – fundamentais para o crescimento dos botões das rosas. Somente a dupla paulista foi responsável por produzir em torno de 1288 hectares de flores em geral no último ano, segundo números da SAA/SP (Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo).
Competir com esses gigantes é o trabalho de uma família inteira de Araruna, município do noroeste paranaense. O casal Antonio e Aparecida Ramalho comanda dois filhos e uma nora dentro da propriedade que cultiva atualmente cerca de 38 mil pés de rosa, mas que já foi destinada para a avicultura.
“Trabalhamos com avicultura e gado de leite por 15 anos. Quando meu pai faleceu, a propriedade foi dividida e nós buscamos trabalhar só com as flores”, explicou Antonio. O cultivo começou há 11 anos com apenas 2.500 pés plantados. Atualmente, a família comercializa 17 variedades de rosas com vendas mensais em torno de 2800 dúzias. Cada conjunto vendido rende entre R$ 10 e R$ 11, elevando o lucro familiar em comparação à avicultura.
A floricultura vem crescendo no Paraná. Segundo números da Seab (Secretaria da Agricultura e do Abastecimento), o setor eleva suas receitas entre 6% a 8% ao ano, respondendo por cerca de R$ 140 milhões do VBP (Valor Bruto de Produção) paranaense. “Hoje tem mercado para vários pequenos produtores entrarem, não só em rosas, mas em diversas culturas de flores. Se entrar e dedicar, consegue ganhar dinheiro”, apontou Antonio.
O crescimento na produção estadual consegue suprir a forte demanda de flores no sul do Brasil. Com redução de custos de frete em comparação aos mercados paulista e mineiro, as rosas de Araruna e dos outros agricultores familiares do Paraná podem não conseguir botões grandes como os de Andradas, localizada a 913 m de altitude, mas possuem qualidade semelhante e por isso ganham espaço no mercado.
“No mercado conseguimos um início forte. As principais dificuldades foram com as pragas e doenças. Até por isso estamos levando nossa produção para as estufas. Quanto à comercialização, no ano em que entramos, verificamos que 90% das flores no Paraná vinha de Holambra ou Andradas. Como agregamos um trabalho com a família fica mais fácil para conseguir mão de obra”, pontuou Antonio.
Aposta em rosas vem de sonho familiar
Conforme foi verificado durante todo o roteiro da Expedição Agricultura Familiar, a “passagem de bastão” entre as gerações é um dos principais desafios para esses produtores. Mas entre os Ramalho, Antonio e Aparecida transformaram os ensinamentos passados para a educação de seus filhos, garantindo dessa forma o futuro da propriedade.
“A verdade é que eu sempre tive um sonho. Ter um negócio para poder gerar renda e ter a família por perto. Quando nós começamos com os 2.500 pés de rosa eu queria dar conta de tudo. Carpir, colher e tudo eu queria fazer sozinha, mas eu acreditava tanto naquilo, que quando chovia eu ia ajoelhada arrancando o mato no meio do roseiral. E realmente deu certo, para mim é um prazer ver que eu consegui, de ter minha família por perto e ter a nossa renda”, contou Aparecida.
Para Antonio, a decisão dos filhos de ficar na propriedade e não seguir para as cidades também é motivo de comemoração. “A gente traz um legado do meu finado pai que queria ver a família unida e trabalhando na lavoura. Meu pai teve pouco estudo, mas ele tinha uma visão que a agricultura familiar seria o futuro do país. E isso nós levamos para os nossos filhos, dar continuidade à sucessão rural aqui e não ir para a cidade, receber menos e ser mandado. Aqui eles irão estar trabalhando no que é deles”, completou o produtor.
O feito da família Ramalho superou uma outra dificuldade. A falta de assistência técnica. De forma autodidata, Antonio e Aparecida buscaram referências bibliográficas e junto a outros produtores e feiras técnicas, como a Hortitec (maior encontro do setor no país realizado anualmente em Holambra), foram moldando sua forma de trabalho na propriedade.
“Hoje a formação está muito direcionada para as grandes culturas como soja e milho, mas a floricultura como ainda é um mercado que está sendo praticamente descoberto, são os próprios produtores que buscam se especializar, com obras técnicas e visitas em outras propriedades. Questões de adubação, sistema de podas e irrigação fazem com que os produtores sejam autodidatas, buscando assistência com outros produtores via WhatsApp”, finalizou Aparecida.
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