Um momento de retomada, um marco e um divisor de águas sob a perspectiva da próxima década, a década de 20. Um ambiente geopolítico recheado de desafios, pautado pela busca de um Brasil mais eficiente e competitivo, com sustentabilidade, socioeconômica e ambiental. Uma pauta ampla, liderada pelos projetos de infraestrutura, condição primeira à retomada do crescimento econômico do país. Mas também pela necessidade de formação e capacitação profissional mais adequada ao enfrentamento de mundo mais tecnológico, de uma economia cada vez mais aberta e liberal.
Um mundo onde as engenharias e a agronomia, por essência, assumem papel de protagonistas, seja pela sua diversidade de atuação ou pela então pela sua capacidade única de gerar emprego, renda e influenciar a geração de riquezas no Produto Interno Bruto (PIB) do país. Seja na atuação pública ou privada, bem como na regulamentação e representação, uma atuação interdisciplinar que se constitui em uma das principais ferramentas ao desenvolvimento.
Entre as peças-chave deste quebra-cabeças está o aumento da população mundial que demanda soluções de transporte, mobilidade urbana, destinação e reciclagem de lixo, uso racional da água, fontes alternativas e renováveis de combustível e produção sustentável de alimentos, proteína animal e vegetal. Como pano de fundo, um mercado dinâmico, digital e tecnológico, da indústria 4.0, da agritech, a internet das coisas, da automação.
E aí, o grande dilema, ou desafio, de como preparar melhor o profissional da próxima década. Já não basta saber. É preciso saber fazer, alerta o engenheiro civil eprofessor Osmar Barros Júnior, que coordena 500 alunos de Engenharia Civil na Universidade de Araraquara, São Paulo. Especialista em estruturas e cálculo estrutural, ele é vice-presidente do CONFEA (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia). Barros Júnior também representa o CONFEA no grupo de trabalho no Ministério da Educação, onde se discutem mudanças importantes para a formação dos futuros profissionais. Para ele, este é um ponto fundamental para garantir a competência e eficiência os profissionais dos próximos dez anos.
O engenheiro destaca que ao longo das últimas décadas a mudança da legislação educacional tornou possível a graduação para uma camada maior da população e uma grande expansão das instituições de ensino públicas e privadas. “Com o agravante da retração do mercado é óbvio que não existe espaço para todos os profissionais que são colocados no mercado todos os anos. E a quantidade não necessariamente tem a ver com a qualidade”, lamenta.
A boa notícia, motivo de debate constante do Conselho, é que as diretrizes curriculares estão mudando. Além de "saber" o profissional da próxima década e “saber fazer”, diz o professor. Ele explica que durante a graduação o aluno terá que fazer mais estágios, pesquisas científicas, ir para a obra, vivenciar na prática o seu conhecimento, e de maneira mais efetiva.
"A partir disso, esperamos que o nível dos profissionais melhore e que, não só estejam mais preparados para o mercado, mas surpreendam o mercado, trazendo soluções para este tempo”, explica Osmar Barros Júnior, vice-presidente do CONFEA.
Além disso, o grupo do Ministério da Educação estuda formas de certificar os profissionais, avaliando periodicamente os cursos e as escolas de ensino superior. Tecnologia, gestão e inovação são, segundo ele, competências fundamentais que os novos profissionais dever ter.
Para o engenheiro civil Lucio Fernando Borges, presidente do Crea-MG, o desafio está em manter-se informado na velocidade atual das frequentes descobertas de conhecimento, além de gerar novos conhecimentos. "A engenharia, agronomia e geociências são campos de conhecimento fundamentais para a evolução da humanidade. O mundo passa por transformações muito rápidas e o profissional precisa acompanhar as novas tecnologias, as tendências, caso contrário terá dificuldade em conquistar o seu espaço. Por isso, é tão importante a necessidade de atualização contínua".
Ele destaca que os profissionais dessas áreas com relevância no futuro são aqueles capazes de desenvolver competências novas, com flexibilidade e capacidade para aprender e empreender constantemente. "Tudo isso alinhado às demandas econômicas, ambientais, sociais e culturais de cada local." O mercado, segundo ele, exige uma formação que vai além da técnica. "A busca é por um perfil de profissional arrojado que domine diversas habilidades, como atitude empreendedora e capacidade de gestão, de comunicação, de liderança, além de de exercer funções em equipes multidisciplinares", explica Borges.
O presidente do CREA-MG conta que, no intuito de dar subsídios técnicos para os profissionais neste sentido, a instituição promoveu no ano passado diversos eventos que tiveram como temas as cidades inteligentes e sustentáveis, a indústria 4.0 e a inteligência artificial. Assuntos que estão em pauta na atualidade e vão pautar a atuação profissional e a retomada do desenvolvimento econômico do Brasil.
Borges acredita que a valorização profissional passa, também, pela mobilização política. Para tanto, ele conta que possuem uma assessoria parlamentar e por meio dela, trabalham assuntos de interesses dos profissionais e da sociedade, como a criminalização do exercício ilegal das profissões de engenharia e agronomia. "Hoje, a nossa principal atuação é a mobilização contra a PEC 108, que propõe a alteração da natureza jurídica dos conselhos e ordens de públicos para privados e acaba com a obrigatoriedade de inscrição", explica o engenheiro.
O mercado dá sinais de reaquecimento
"O setor da construção civil já dá sinais de reaquecimento e as perspectivas são boas e desafiadoras ao mesmo tempo", diz o engenheiro civil Osmar Barros Júnior, vice-presidente do CONFEA. Ele faz uma leitura interessante da última década no setor, lembrando que a partir de 2010 tivemos um mercado aquecido economicamente, o que se refletiu na construção civil, além de indústria e todos os setores de maneira geral. "Comparado a isso, temos um início de década mais desaquecido, porém, com uma perspectiva real de retomada do crescimento", afirma.
A visão está alinhada com as iniciativas e promessas do governo federal de aquecer a economia e retomar o crescimento a partir de investimentos em infraestrutura. Em especial na concessão de áreas e obras estruturantes, como rodovias, portos, aeroportos e rodovias. Apenas na concessão de ferrovias, o governo anunciou recentemente que espera atrair R$ 52,8 bilhões em investimentos. A retomada de obras paralisadas também está no radar.
Dados de maio de 2019, apurados pelo Tribunal de Contas da União, apontam que existem mais de 14 mil obras públicas paradas no Brasil. Segundo Barros Júnior, o poder público já dá sinais de retomada destas obras este ano, principalmente as ligadas à infraestrutura, transportes e mobilidade, geração de energia. "Estamos vindo de uma retração do mercado, devido ao contexto nacional político, social, econômico, além dos desafios de estarmos num mercado global. O mercado ficou complicado para os profissionais".
Contudo, avalia, hoje a área da construção civil começa a reaquecer e o crescimento é natural a partir de retomada de obras de infraestrutura, transporte, mobilidade e soluções cotidianas. "Nessa linha, o setor privado, um pouco mais lento e cauteloso, também reage.” Para ele, as expectativas de mercado são as melhores e, neste contexto, o CONFEA tem como papel, mais do que a valorização profissional, a defesa do exercício da profissão de maneira a beneficiar toda a sociedade.
O integrante do conselho da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e presidente do Sindicato das Indústrias de Refrigeração, Aquecimento e Tratamento de Ar (Sindratar–SP), engenheiro mecânico Carlos Eduardo Trombini, confirma que o momento de crise vai passando progressivamente e agora o desafio é a busca pelo aumento da produtividade e da participação no mercado mundial. “Estamos entrando na era da indústria 4.0. O desafio agora é vencermos esta demanda tecnológica e de inovação e financiarmos tudo isso (infraestrutura e produção)".
Trombini aposta que o caminho é o crescimento ordenado dos diversos setores dos quais dependem este crescimento. "Precisamos de infraestrutura, transportes, que acomodem este desenvolvimento. Temos grandes desafios fiscais, financeiros, mas também precisamos olhar para a capacitação profissional, pensando inclusive com o olhar para as décadas de 30, 40”. Para o engenheiro mecânico e empresário, a década que está chegando pode ajudar num desenvolvimento mais programado, controlado e sustentável.
Quanto ao capital humano, o empresário lamenta: "O Brasil tem sofrido bastante perdas, profissionais com especialização, com conhecimento, temos perdido muita gente boa para outros países porque não temos investimento nisso.” Para ele, o investimento na educação básica, fundamental e superior é uma ação fundamental agora, e da qual depende também o sucesso das próximas décadas.
“Nossa educação tem sido muito mais mercantil do que voltada a desenvolver habilidades de um profissional com as capacidades que precisamos. Temos que pensar lá na frente, no século, e investir na educação básica e formação profissional. Disso depende o futuro.", diz Carlos Eduardo Trombini.
Segurança e abastecimento alimentar com sustentabilidade
Na área da produção de proteína animal e vegetal o Brasil da próxima década aposta e investe em uma produção sustentável. "O Brasil é um país estratégico para o abastecimento e segurança alimentar do mundo", ressalta Kleber Santos, engenheiro agrônomo, presidente da Confederação dos Engenheiros Agrônomos do Brasil (Confaeab). Por conta dessa realidade, uma vocação natural do Brasil, ele acredita que o principal desafio do país nesta próxima década é aumentar a produtividade com sustentabilidade.
Para isso, o agrônomo destaca que a atuação dos profissionais brasileiros está muito focada em tecnologia e inovação. "A agricultura e pecuária brasileiras estão em constante busca por ideias e processos que nos ajudem a cumprir nosso papel na produção de alimentos para o mundo com excelência, equilíbrio ambiental e financeiro", afirma.
Neste caminho, a organização em entidades que garantam a qualidade do exercício profissional, uma formação acadêmica de excelência e a representatividade perante a comunidade é essencial para se atingir as metas da década, sentencia. "Mais do que objetivos corporativos, a ideia é discutir o papel do profissional neste cenário no qual se busca o aumento da produtividade com sustentabilidade”, diz.
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