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Agreste sergipano

Perímetro irrigado transforma áreas de Sergipe no “oásis” das hortaliças

Jucimara Vieira da Costa e Genilson Bispo dos Santos, produtores de Itabaiana (SE): irrigação trouxe a possibilidade de plantar hortaliças o ano inteiro (Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo)

Espremida entre a Zona da Mata, que circunda o litoral, e o Semiárido, o Agreste nordestino tem características climáticas de deserto, onde a água é escassa e o calor, intenso. Nessas condições, a existência de agricultura de qualidade só é possível a partir da criação de uma infraestrutura que leve água ao campo. Um exemplo são os perímetros irrigados do estado de Sergipe. Tratam-se de áreas planejadas para a agricultura há mais de 30 anos e que hoje colhem bons resultados na produção de verduras e hortaliças.

Na região de Itabaiana, o predomínio é de propriedades rurais da agricultura familiar – 99% dos estabelecimentos agropecuários têm, no máximo, 5 hectares, segundo informações da Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro). A região possui 6,4 mil propriedades ao todo, a maior parte familiar. Quem está dentro do perímetro de irrigação normalmente tem melhores condições para produzir.

É o que se vê na propriedade de 3 hectares de Genilson Bispo dos Santos e Jucimara Vieria da Costa, que fica dentro do Perímetro Irrigado Porção da Ribeira, que engloba os municípios de Itabaiana e Areia Branca. Ali, o casal produz amendoim, quiabo, coentro e batata-doce – esses dois últimos os carros-chefe da produção local. Genilson, de 50 anos, e que nasceu na região, diz que antes do perímetro era impossível produzir o ano todo, mas apenas no período chuvoso, que dura um par de meses no ano. “Quem reclamar agora é um miserável!”, sentencia.

Augusto Cesar Rocha, gerente do perímetro, explica que a água que irriga as plantações vem dos rios Traíras e Das Pedras. A água é acumulada em uma barragem de 15,6 mil litros e depois bombeada para os 466 lotes (678 hectares no total) do perímetro. São 72 quilômetros de adutoras. Às vezes, diz ele, ocorrem problemas de abastecimento, com interrupções no fornecimento e paradas por modificações no sistema de irrigação, que recentemente mudou de aspersão convencional para microaspersão. Muitos produtores não gostaram da mudança porque acham que a quantidade de água não é suficiente para a irrigação. Os técnicos, no entanto, afirmam a microaspersão evita o desperdício e que a água é suficiente para manter a produção.

Sergipe possui no total seis perímetros irrigados, que começaram a funcionar há mais de três décadas. No caso do perímetro de Itabaiana, a produção abastece, além da própria cidade e do entorno, as capitais Aracajú (SE) e Salvador (BA). No caso da batata-doce, o produto chega até Minas Gerais. Alguns agricultores conseguem obter produtividades comparáveis às do Rio Grande do Sul, maior produtor nacional da raiz. Os sergipanos atingem médias de 32 a 35 toneladas por hectare – o dobro da média da Região Nordeste, que varia entre 12 e 15 toneladas/ha.

Itabaiana também é um centro de distribuição logística de produtos e está para inaugurar um Ceasa em breve, o que deve organizar a distribuição dos produtos agrícolas na região. Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo (Foto: Rogério Machado)

“Não são todos os produtores, mas quem trabalha com manejo adequado consegue chegar nessas médias”, observa Rocha. Dentro do perímetro, a gerência e a assistência técnica aos produtores cabem à Companhia de Recursos Hídricos e Irrigação do Estado de Sergipe (Cohidro). Este ano, por causa da estiagem, houve a necessidade de interromper o sistema do perímetro por seis meses, já que a barragem também é utilizada para o abastecimento público, que neste caso tem prioridade.

Jucimara diz que os sistemas de irrigação facilitaram o trabalho na roça. “Antes, a irrigação era no aspersor e tomava muito tempo. Agora é só ligar e desligar. Fica bem mais fácil. O serviço rende”, afirma. Segundo ela, antes as mudas em alguns pontos dos canteiros falhavam, mas agora a plantação não fica mais desigual. O casal também faz a rotação de culturas e com isso garante produção e renda o ano todo.

A força de trabalho ali é toda da família – Genilson, Jucimara e dois irmãos dele. “Às vezes a gente contrata algum trabalho, dependendo da produção. É preciso contratar mão de obra para a batata-doce, às vezes, mas nem sempre temos condições de contratar’, explica o produtor. Nessa época do ano, o preço pago pelo produto gira em torno de R$ 15 o saco de 40 kg, pois é o período em que todo mundo está colhendo.

Itabaiana também é um centro de distribuição logística de produtos e está para inaugurar um Ceasa em breve, o que deve organizar a distribuição dos produtos agrícolas na região. “Mesmo com o Ceasa abrindo não vai aumentar o preço da batata-doce. Na época da entressafra ela pode chegar a R$ 50, mas agora ninguém tá querendo e o preço vai lá embaixo”, diz Genilson.

No norte do estado, produtores apostam nos derivados de leite

Cesar Brito da Silveira, pecuarista de Gararu (SE), aposta na agroindústria para melhorar a renda, pois o valor do leite cru é muito baixo na região, segundo ele. Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo (Foto: Rogério Machado)

Em Gararu, no Norte de Sergipe, a solução dos produtores é reservar a água da chuva para usar nos períodos de estiagem. Mesmo estando às margens do Rio São Francisco, a pecuária – que é o forte na região – depende de cisternas e reservatórios para matar a sede gado. O pecuarista leiteiro Cesar Brito da Silveira, por exemplo, está apostando em uma pequena agroindústria para melhorar a renda. Ele fabrica queijo coalho e manteiga, que são vendidos na região de Gararu, chegando até a capital Aracajú por meio de atravessadores.

“Minha renda aumentou uns 40% depois da fabriqueta”, afirma Cesar. Ele explica que ainda faltam algumas etapas para que a pequena agroindústria seja reconhecida e receba um selo de certificação. Com isso, poderá ampliar a comercialização dos seus produtos. Atualmente, ele, a esposa e os pais criam 50 cabeças de gado girolando em pouco mais de 20 hectares de terra. No total, as 22 vacas que estão lactando produzem 370 litros de leite por dia, bem mais do que a média dos vizinhos, que é de 200 litros/dia. “Produzir só o leite para vender não compensa, porque o gasto é muito. Tem muitos produtores por aqui, mas que tenham fabriqueta são poucos”, afirma Antônio Resende, técnico agropecuário da Emdagro em Gararu.

Como não vende o leite cru, apenas o queijo e a manteiga, Cesar chega a comprar a produção de leite dos vizinhos. Nos seus planos está comprar um caminhão refrigerado para poder levar os seus produtos mais longe. “Se ele regularizar, criar uma empresa e receber o selo de inspeção vai poder vender o produto diretamente nos supermercados”, diz Resende. Infelizmente, o escritório local da instituição possui apenas dois técnicos para dar assistência a mais de 3 mil produtores da região.

Expedição Agricultura Familiar em Gararu, Sergipe, na propriedade do pecuarista leiteiro Cesar Brito da Silveira. Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo (Foto: Rogério Machado)

Ao todo, o estado de Sergipe possui 680,5 mil hectares de áreas de agropecuária familiar, segundo dados do IBGE. O número de estabelecimentos agrícolas dessa modalidade gira em torno de 72 mil. Conforme aponta o Censo Agropecuário de 2017, as 8,6 mil propriedades familiares em Sergipe que trabalham com horticultura movimentaram uma economia de R$ 60,6 milhões naquele ano.

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