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A produção de peixes tem diversas variáveis que podem colocar em risco os bons resultados. Um dos fatores decisivos é o clima, em especial a seca, que prejudica o abastecimento de água natural dentro dos tanques. Essa tem sido a realidade de piscicultores do Norte Pioneiro do Paraná, que vêm tentando "driblar” essas dificuldades para se manterem competitivos.
Em Carlópolis, a família Oliveira está em sua segunda geração de piscicultores. Rubens começou a cultivar em tanques escavados há 25 anos, mas um AVC (Acidente Vascular Cerebral) paralisou a produção na propriedade. Os filhos Rubens Junior e Glasielli foram os responsáveis por retomar as atividades há cinco anos.
“Meu irmão tem a lavoura de goiaba e café e eu sou vigilante, mas procuramos no tanque uma forma de complementar a nossa renda. Conseguimos dessa forma conciliar e acabou dando certo. Se futuramente focarmos só com os peixes vamos focar em comprar um aerador e aumentar para seis, sete peixes por metro quadrado”, explicou Glasielli.
Mas a falta de chuvas na região atrapalhou o cultivo nessa temporada. Se a expectativa era utilizar todos os quatro tanques para a criação dos peixes, a seca obrigou que os irmãos dessem um passo atrás no planejamento para o ciclo.
“Em nosso primeiro ano nós colocamos 15 mil peixes e como não tínhamos experiência perdemos muito de nossa produção. No nosso segundo cultivo colocamos nos dois tanques, já no terceiro foi em três, enquanto neste ano, que era para usarmos todos os tanques, só deu para colocar em um”, pontuou a produtora.
Para conseguir diminuir esses prejuízos, duas ações têm auxiliado os produtores locais. A primeira é a união entre os piscicultores, que em um grupo informal, negociam em conjunto compra de rações e até mesmo trabalham unidos para auxiliarem em momentos como a despesca dos tanques. A outra ponta é a assistência técnica, fundamental para a continuidade do projeto e também na redução de custos.
“Fazemos junto aos produtores a avaliação mensal do crescimento dos peixes. Assim é possível saber a quantidade de ração necessária para termos a conversão alimentar. Porque o principal custo de produção é a ração, que equivale a quase 60% dos custos totais ao produtor”, colocou o técnico da Emater (Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural) Victor André França.
Se o clima não auxiliou com as chuvas, a estabilidade na temperatura é benéfica para a redução da mortalidade nos tanques. Quanto menos variação na temperatura dentro dos tanques, menor é a possibilidade de proliferação de doenças e agentes externos parasitários. Com isso, a produção de Glasielli e Rubens Junior não registrou perda de tilápias por questões sanitárias nos últimos cinco anos.
Tilápias com valor agregado
Lázaro Roberto da Silva e Mara da Silva também têm sofrido com a seca em sua produção de tilápias no município de Tomazina. O casal teve que adequar a produção entre os tanques escavados na propriedade. Lázaro e Mara ainda produzem gado leiteiro, galinha e porco na propriedade, mas encontraram uma forma inovadora para conseguir agregar valor na produção de peixes. O rissole de tilápia.
“Meus filhos sempre gostavam de coxinha, mas o formato delas fazia com que eles se engasgassem. Aí eu pensei em fazer uma massa que eles pudessem comer. Eu comecei a pegar junto dos pescadores as carcaças dos filés recém pescados e comecei a fazer uma nova massa. Fazer o rissole foi mais simples do que enrolar as coxinhas, então eu investi nele. Foi se espalhando até que começamos a vender nas feiras aqui da cidade”, lembrou Mara.
O salgado é feito de forma artesanal por Mara e mais uma funcionária, que em oito horas produzem mil unidades. O rissole é vendido para o programa de merenda escolar em Wenceslau Braz (também na região do norte pioneiro) e também para o comércio local, tendo embalagem própria com 15 unidades e pode ser servido frito, assado ou cozido.
“Nosso principal problema em colocar os rissoles nos grandes mercados é a quantidade exigida por eles, algo que nossa produção artesanal não permite. Atualmente ainda temos o problema da mão de obra qualificada, com poucas pessoas querendo aprender o processo e querendo trabalhar. Mas quem sabe no futuro, vocês voltem aqui e já estejamos com nosso produto distribuído”, finalizou Mara.
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