A exemplo do que já ocorre nas grandes propriedades do agronegócio, a agricultura familiar tem apresentado resultados positivos com a adoção do sistema de plantio direto e irrigação, uma técnica que surgiu na década de 1970 e é associada à expansão da fronteira agrícola no país, principalmente nas plantações de soja.
O desafio em relação ao uso do sistema envolvendo os agricultores familiares é que ele ainda precisa de capilaridade. Trabalhos científicos feitos desde o início da década de 2000 apontam, por exemplo, que o índice de uso do plantio direto ainda engatinha na agricultura familiar, em comparação às lavouras de monocultura como a soja, em que a técnica engloba quase 100% da área plantada.
Adilson Bordignião, 45 anos, tem uma pequena propriedade de hortaliças no município de Almirante Tamandaré, na região metropolitana de Curitiba. Ele adotou o plantio direto há um ano em 30% da propriedade, constatando uma qualidade superior do repolho, por exemplo. De dois quilos em média, ele passou a colher espécies de quase quatro quilos.
Adilson disse que nunca havia ouvido falar na técnica, pois sempre trabalhou de acordo com o que os familiares, moradores da região há cerca de 50 anos, sempre empregaram na lavoura, como o revolvimento constante da terra para semeá-la, criação de canteiros e aplicação de calcário para adubação. “A gente foi ensinado assim, mas eu conheci o plantio direto numa palestra e quero chegar a usar ele em 80% da minha propriedade. Eu já tinha percebido que a terra estava cansada e precisava protegê-la e garantir que meus filhos também possam usar essa terra”, declarou Adilson, que se disse surpreendido com os resultados que o plantio direto gerou. A economia com aplicação de adubos químicos chegou a 30%, o que ajudou o agricultor a reinvestir recursos na propriedade para ampliar o uso da técnica.
O plantio direto se baseia em várias ações envolvendo a rotação de culturas, mínimo revolvimento da terra e manutenção de cobertura vegetal permanente do solo, a popular “palhada”. Ela protege o solo das intempéries, ajuda a manter a nutrição natural da terra e a segurar a água acumulada da chuva por mais tempo, mantendo a umidade necessária para o desenvolvimento dos cultivos.
O plantio direto se dissemina com mais facilidade entre os agricultores familiares da Região Sul, segundo especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo. Santa Catarina, por exemplo, tem desenvolvido técnicas de plantio direto em hortaliças que vem ganhando reconhecimento nacional. Mas o caminho de convencimento é longo, como mostra o caso do agricultor de Almirante Tamandaré. Para isso, órgãos estatais de assistência técnica, como a Emater (Instituto Paraná de Assistência Técnica e Extensão Rural) e o Iapar (Instituto Agronômico do Paraná), promovem dias de campo, para reunir o máximo número possível de agricultores familiares interessados a adotar a técnica e servir de multiplicadores do conhecimento.
Pelo menos 30 agricultores que cultivam hortaliças consumidas em Curitiba e região metropolitana estiveram em um evento como esse na propriedade de Adilson Bordignião para conhecer detalhes de como usar a técnica em suas propriedades. “Para um bom plantio direto, temos que aportar 10 toneladas por hectare de matéria seca. Uma das melhores para a produção de palha é o milheto (espécie de gramínea)”, disse João de Ribeiro Reis Júnior, engenheiro agrônomo e coordenador regional da Emater em Curitiba.
“Uma das coisas que a gente precisava corrigir é adubar a planta de cobertura para produzir em volume de palha superior. Gradativamente, a palha libera nutrientes para o solo e que será absorvida pela cultura que estiver plantada naquela terra. O agricultor precisa perder o medo do mato. Não queremos mais máquina rotativa no solo, que só se degrada com isso. É preciso olhar a planta e perceber o que ela está precisando”, afirmou Reis Júnior.
Benefício ambiental
Além dos benefícios econômicos e de produção, o agricultor contribui com o meio ambiente através do plantio direto. “Nossa agricultura familiar no Paraná tem cultivo com a cobertura de palha nas culturas de milho, soja, trigo e feijão. Ela tem papel fundamental na preservação do meio ambiente e na conservação do solo”, disse Marcos Brambilla, presidente da Fetaep (Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Estado do Paraná). “O manejo, a conservação do solo e da água é uma obrigação de quem produz. O plantio direto é uma ferramenta para tornar isso possível”, observou o dirigente.
De acordo com Brambilla, é preciso respeitar regras do plantio direto para realizar o uso da técnica com qualidade. “Com a pressa demais de tirar uma cultura e colocar outra, você começou a ter problemas, pois a prática do plantio direto nesses casos fica fora da recomendação”, afirmou.
“O processo é lento, pois ele é de aprendizado. Você dizer que o agricultor não vai mais fazer canteiro é mexer numa cultura de muitos anos. Estamos no processo de convencimento”, disse Reis Júnior, da Emater.