Apesar de ser conhecido mundialmente pela produção de frutas típicas da região, como o guaraná, o açaí e o cupuaçu, o Amazonas gaba-se também de ter o abacaxi mais doce do planeta. O fruto tem alto teor de açúcar e baixa acidez, o que lhe confere características únicas de sabor. Para conhecer de perto como é produzida essa delícia a equipe da Expedição Agricultura Familiar viajou até a comunidade de São Francisco do Caramuri, na área rural de Manaus. Para chegar lá é preciso pegar um barco, pois o local é isolado e sem acesso por terra.
Na propriedade da família de Fábio Leandro da Silva, de 130 hectares, onde estão plantados 400 mil pés de abacaxi, são produzidos abacaxis que abastecem as merendas de estudantes da rede pública de Manaus e que são comercializados até em Roraima. “Já tentaram produzir esse abacaxi em outros lugares, mas não deu certo”, diz Fabrício da Silva, de 15 anos, filho de Fábio, que ajuda o pai na lavoura, onde 70% do que é colhido é de abacaxis de porte grande, conhecidos como ferrão, que têm mercado garantido.
“Nossos solos do Amazonas são ácidos, com teor de alumínio alto, tanto que temos de jogar muito calcário nele. Aqui [na propriedade do Fábio] o solo é rico em potássio, por exemplo, por isso o abacaxi é tão doce. Só que tem outros micronutrientes que são deficientes, como manganês, boro”, explica Djaneide da Silva Lisboa, técnica agropecuária do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam).
Há mais ou menos dois anos, a produtividade na região do Caramuri estava em queda. Depois de muitos testes e exames químicos descobriu-se a deficiência dos micronutrientes. A partir daí começou-se a fazer a adubação complementar. As mudas do abacaxi plantado pela família Silva, segundo Djaneide, vieram da Bahia. Mas por causa da condição única do solo e do clima da região do Caramuri, o resultado foi bem diferente. “Lá na Bahia o abacaxi não é tão doce quanto aqui”, sentencia. Fabrício ainda desta que o calor e o clima chuvoso da região contribuem para a produção do abacaxi.
Outro fator que tem ajudado os produtores foi a mecanização da lavoura, incentivada pelo governo do estado. Com tratores, grades e até triciclos doados pelo poder público foi possível aumentar a produção. Graças também ao associativismo dos produtores, que criaram a Associação Comunitária Agrícola são Francisco do Caramuri. Hoje ela reúne mais de 30 famílias. “Antigamente isso tudo era feito no braço. Um plantio desses era muito difícil de fazer e de zelar por ele, por causa do mato”, explica Fábio. “Uma área dessas que a gente plantava 20 mil mudas, que era desmatada no braçal, hoje plantamos 35 mil mudas”
Por ano, Fábio, a esposa, o filho e quatro sobrinhos colhem 234 toneladas por ano, que são vendidas para o governo. Nada mal para uma família que aportou ali em 1992 e apostou todas as fichas no abacaxi. Atualmente, o governo do estado paga R$ 2,15 no quilo da fruta, pelo fato de serem membros da associação. Que não é associado recebe R$ 2,05 o quilo.
A comunidade também espera receber em breve o selo de indicação geográfica, pelo abacaxi produzindo na região conhecida como Novo Remanso. “Vamos ser reconhecido no Brasil e no exterior. No momento em que uma fruta é reconhecida, agrega valor para o produto também”, explica Fábio, que planta apenas uma variedade de abacaxi e tem o cuidado de não trazer outras variedades para a lavoura para não comprometer o sabor e as características únicos da fruta.
Outro segredo do abacaxi mais doce do mundo, segundo Djaneide, é que nele é feita uma indução floral para acelerar o processo de amadurecimento do fruto. “Se você deixar o ciclo completo, ele demora a amadurecer. Então, é preciso acelerar esse processo, colocando o indutor floral. O problema é que também acelera o processo de maturação da fruta, o que é ruim para a exportação, por exemplo”, observa. No ciclo completo, a planta leva 1 ano e 6 meses para produzir. Esse tempo é reduzido em meses com a indução. A saída é escalonar o plantio, planejando os talhões para colher conforme a demanda, segundo informa o técnico agropecuário do Idam Jeam Matos Melo.
Potencial frutífero
De acordo com o secretário de Produção Rural do Amazonas, Petrucio Júnior, foram identificadas 21 cadeias produtivas de grande potencial no estado, entre elas a do abacaxi e da banana. “No caso do abacaxi, temos a segunda maior região produtora desse fruto no país e estamos despontando aos poucos com algumas cadeias produtivas de grande potencial”, afirma. No futuro, o abacaxi pode chegar ao patamar comercial de outras atividades, como o açaí, o guaraná e os pescados, que são exportados para fora do país, inclusive.
Para o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Amazonas (Crea-AM), Afonso Lins Júnior, os desafios para a agricultura no estado são maiores por conta do solo pobre em nutrientes e por causa das grandes distâncias que a produção precisa percorrer. “Primeiramente nós temos um solo ruim, que precisa ser melhorado, e isso custa dinheiro. Outro problema é a logística. Nós temos a BR-319, por exemplo, que ligaria Manaus a Porto Velho (RO), que já existiu um dia e que precisa ser repavimentada. Mas aí existe um entrave ambiental e indígena. Como temos muitas reservas indígenas e ambientais, isso dificulta um pouco a agricultura no estado, por isso temos muita agricultura familiar”, observa.
Já a diretora presidente do Idam, Eda Oliva, diz que o potencial produtivo do Amazonas suplanta as dificuldades encontradas. “É um estado que tem um potencial muito grande, não só na parte produtiva, mas também na extrativa agrícola e mineral. Temos uma das maiores bacias hidrográficas do mundo. Temos tudo para ter uma economia significativa vinda do setor primário”, sentencia. Ela explica que a assistência técnica do Idam deve ter seus quadros de servidores aumentados em breve, com o chamamento de novos técnicos agropecuários, o que deve melhorar a extensão rural em todas as áreas do Amazonas.
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