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1 milhão de hectares de soja para energia

A mistura obrigatória de 5% de biodiesel ao diesel mineral, conhecida como B5, em vigor desde o início do ano, vai transformar 7% da safra brasileira de soja em energia em 2010. Para suprir a demanda do B5, o país vai precisar de 2,5 bilhões de litros do combustível, conforme estimativa do Ministério de Minas e Energia (MME), que coordena o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB).

Considerando que a oleaginosa serve de base para cerca de 80% do B100 (biodiesel puro) produzido no Brasil, serão precisos 3,6 milhões de toneladas do grão, ou 1,2 milhão de hectares. Volume que corresponde a 90 mil carretas de 40 toneladas carregadas de soja. A área necessária para alimentar o setor equivale a um quarto de toda a extensão das lavouras de soja do Paraná, ou mais de dois municípios de Sorriso, o maior produtor individual da oleaginosa do mundo, que planta próximo de 600 mil hectares.

"Considerando que o Brasil cultiva 23 milhões de hectares de soja, ainda temos muito espaço para crescer na produção de biodiesel apenas utilizando a matéria-prima já existente", avalia o coordenador do PNPB, Arnoldo de Campos. Além da oleaginosa, a única outra matéria-prima que tem representatividade na matriz energética brasileira é o sebo bovino, usado para produzir entre 10% e 12% do B100 do país. Fontes como mamona, pinhão-manso, palma, algodão, canola e girassol também são usadas, mas têm participação pequena.

Campos afirma que a diversificação da matriz energética está no horizonte do PNPB, mas esbarra na disponibilidade e na viabilidade econômica de matérias-primas menos tradicionais. Segundo ele, o setor tem acesso limitado a produtos alternativos, como a mamona e o dendê porque tem que disputar a pouca oferta disponível com a indústria química e a de cosméticos, que pagam preços melhores.

Cotações

Apesar da participação da soja ser grande, os preços do grão não chegam a ser influenciados pela demanda para a fabricação do combustível. "A formação do preço interno da oleaginosa ainda é muito dependente do mercado internacional. Mesmo com o crescimento da produção de biodiesel, será bastante difícil desvencilhar as cotações domésticas da Bolsa de Chicago", diz Campos. Ele afirma que o impacto da crescente demanda por soja para a fabricação de energia é mais forte nos preços internos do óleo de soja, mas que, mesmo nesse caso, o mercado internacional ainda é a principal referência.

O diretor defende a diversificação da matriz energética brasileira, mas não vê a alta dependência da soja como negativa. "É a sinergia total entre a produção de alimentos e de energia", considera. Ele lembra que antes do biodiesel as pesquisas de melhoramento de soja buscavam desenvolver variedades com um menor teor de óleo. "O subproduto mais nobre era o farelo, que é usado na ração animal. O biodiesel viabilizou a produção de óleo de soja no Brasil", diz.

Para ele, a produção de diesel renovável à base de soja é também uma maneira de agregar valor às agroexportações brasileiras, desestimulando a venda do grão in natura e incentivando os embarques de carnes. Atualmente, cerca de 40% da soja exportada pelo Brasil sai do país como grão.

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