O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) colocou mais um peso nas costas do fragilizado mercado da soja. No dia 31, o USDA projetou a área a ser cultivada com soja na safra 2006/07 naquele país em 31,1 milhões de hectares contra 29,2 milhões de hectares da safra passada. Poderá ser a maior área cultivada com soja naquele país.
Curiosamente, há 15 dias, o ministro da agricultura, Roberto Rodrigues, afirmava que em virtude da crise no setor agrícola, a tendência seria de uma redução de 10% na área de grãos cultivada no Brasil. Para a soja, isso significaria algo em torno de 2 milhões de hectares, praticamente a superfície de incremento projetada para este ano nos EUA.
A despeito da coincidência dos números, o aumento da área de soja por lá nada tem a ver com a futura redução brasileira. Isso porque foi o expressivo aumento nos custos de produção de milho naquele país que fez os produtores abandonarem a cultura em favor da soja. Como se sabe, os americanos cultivam a maior área do mundo com milho. No ano passado, foram 33,1 milhões de hectares e para este ano o plantio estimado é de 31,5 milhões de hectares, redução de 1,6 milhão de hectares.
Segundo os cálculos da Agência Rural, no ano passado, o investimento em tecnologia para obter o maior rendimento por hectare entre os países que cultivam milho (180 sacas por hectare) era US$ 420 por hectare. Neste ano, em virtude do aumento dos preços dos fertilizantes, responsável por 40% do custo do milho, o investimento por hectare atingiu US$ 490. Resultado natural: migração do milho para a soja em terras norte-americanas.
Em agricultura, nem tudo que se planta dá. Mas, de qualquer forma, os números de oferta e demanda do maior produtor de soja do mundo assustam quando se trabalha com uma produtividade média histórica.
Se projetarmos um rendimento médio de 45 sacas por hectare, poderemos ver uma colheita nos EUA de 82 milhões de toneladas. Adicionadas as 16 milhões de toneladas dos estoques de passagem da safra 2005/06, a oferta total dos americanos se aproximaria de 100 milhões de toneladas. Se tirarmos 82 milhões de toneladas do consumo total para o próximo ano, teremos estoques finais próximos de 16 milhões de toneladas e uma relação estoque/consumo de 20%, ou seja, o mesmo índice da safra atual (05/06). Isso quer dizer que os preços internacionais não acenam com grandes mudanças dentro de uma análise futura.
fmuraro@agrural.com.br
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