No Brasil a área plantada com cevada em 2016 está estimada em 94,8 mil hectares, sendo que 91% será semeado com cultivares BRS, sigla que identifica materiais provenientes do programa de melhoramento genético liderado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Com uma produção nacional de aproximadamente 300 mil toneladas ao ano, o volume atende apenas 43% da necessidade da indústria brasileira que produz 1,3 milhão de toneladas de malte. Para suprir essa demanda ainda são importadas anualmente 400 mil toneladas de cevada.
De acordo com a Embrapa, a ampliação da área plantada com cultivares brasileiras contribuiu para o aumento de produtividade da cevada. Em 1985, quando ainda não havia cultivos com genética Embrapa, a produtividade média foi de 1.671 quilos por hectare. Dez anos depois, representando 46% da área, o rendimento médio das lavouras saltou para 2.526 quilos por hectare. Para 2016, com 91% da área semeada com BRS, a produtividade nacional média pode chegar a 3.300 kg/ha.
“O Brasil é grande consumidor e importador de malte e cevada apenas para atender a indústria cervejeira, havendo, portanto, grandes oportunidades para o aumento da capacidade de malteação e da produção de cevada”, salienta o pesquisador da Embrapa Trigo, Euclydes Minella.
Para atender tanto a necessidade dos produtores quanto ao padrão de qualidade da indústria, o programa de melhoramento genético de cevada cervejeira, iniciado em 1977 pela Embrapa Trigo, atua fortemente por meio de parcerias. “A parceria proporciona a garantia de que só se destinam para a lavoura cultivares competitivas em rendimento e qualidade, satisfazendo o interesse de produtor e indústria”, comenta o pesquisador Euclydes Minella. Para o especialista, a competitividade proporcionada pela genética desenvolvida pela Embrapa tem contribuído para a sustentabilidade da cadeia.
O diferencial do programa de pesquisa da cevada é a integração entre produtores, maltaria e indústria de bebidas por meio de programas de fomento, assistência técnica e compra garantida do produto mediante contrato firmado entre empresas e produtores. Para a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, Cláudia De Mori, a principal vantagem deste sistema está na fixação de preço antes do cultivo e na ‘liquidez’ de mercado. “Isso dá ao produtor condições de planejar seus investimentos na produção”, destaca a pesquisadora.
Novos hábitos
A organização da cadeia, possibilitada pelo trabalho integrado, favorece também o atendimento às mudanças nos hábitos de consumo de cerveja. Impulsionados por essas mudanças, produtos derivados da cevada estão em alta no varejo. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil já conta com 5.254 produtos de cervejarias registrados, distribuídos em cerca de 80 tipos diferentes de cerveja. Somente entre 8 de abril e 17 de maio deste ano, o número de cervejarias registradas no Mapa passou de 320 para 397. O crescimento se deve à abertura do mercado para novas tendências, principalmente as cervejas artesanais. “A pesquisa precisa sempre estar atenta à evolução do mercado e das demandas para o produto que trabalha. A Embrapa acompanha esse movimento procurando entender as demandas em termos de qualidade do malte, e por consequência, da cevada “, salienta Minella.