Desde outubro do ano passado, a firmeza das cotações da soja na Bolsa de Chicago tem sido explicada pela redução do plantio da oleaginosa na atual temporada norte-americana. Com estoques recordes nos EUA e a maior safra sul-americana de todos os tempos, a demanda passou para um segundo plano, no qual também ficou escondido o papel da China no mercado.
Os chineses, contudo, estão vivos. E comprando. No primeiro trimestre de 2007, eles importaram 5,7 milhões de toneladas de soja, 5,55% a mais que as compras realizadas nesse mesmo período dos últimos três anos.
A principal explicação para o aumento no volume importado está na demanda aquecida das indústrias de óleos vegetais da China. Além de atenderem com a ajuda da soja um consumo que não pára de crescer, as esmagadoras chinesas tiveram de usar o grão para substituir a canola, que é outra matéria-prima muito usada pelas indústrias para a produção de óleo e cuja safra caiu de 12,7 milhões em 2006 para 8,5 milhões de toneladas. A drástica queda na produção de canola veio na esteira da forte redução de área, que migrou quase toda para o trigo.
Voltando à soja, é importante dizer que o acumulado das importações chinesas nos primeiros seis meses da temporada comercial 2006/07 (outubro a março) cresceu 2,4% e chegou a 12,8 milhões de toneladas, outro recorde para o período. O volume, contudo, representa "apenas" 41,1% da estimativa de importação para 2006/07, calculada pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) em 31 milhões de toneladas. Nessa mesma época do ano passado, o percentual era de 44,1%.
A diferença no ritmo de importações sugere duas possibilidades: ou os chineses não vão comprar toda a soja que o USDA imagina, o que seria ruim para as cotações, ou eles terão que pisar no acelerador para dar conta dos números que aí estão, o que pode ser bom para os preços. Qual é sua aposta?
Fernando Muraro Jr, é engenheiro agrônomo e analista de mercado da AgRural Commodities Agrícolas, fmuraro@agrural.com.br
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