As ferrovias devem multiplicar sua participação no transporte da produção rural nas próximas décadas, mostra o caderno Agronegócio de hoje, o que abre uma série de reflexões sobre como será a logística do futuro. Os projetos exigem tempo e dependem de estudos de viabilidade técnica, o que adia as comemorações. Por outro lado, a malha rodoviária atual chegou perto de seu limite, o que amplia a importância dos investimentos em alternativas de escoamento, inclusive para o presente.
A demonstração de envolvimento das lideranças do setor e do poder público com os projetos das ferrovias é animadora. Porém, o que pode ser feito por uma nova logística vai além disso, num ano em que o agronegócio tem tudo para se capitalizar, pela previsão de boa produtividade e elevada lucratividade para a soja e o milho. A própria iniciativa privada busca recursos e anuncia investimentos na construção de armazéns e terminais portuários.
Pelos recursos e prazos dos projetos públicos e privados, talvez o Brasil não chegue tão cedo a uma logística ideal com custos de transporte reduzidos pelo uso de ferrovias capazes de transportar mais da metade da produção rural, principalmente em longas distâncias. Embora deva ser valorizado o fato de cada elo da cadeia produtiva demonstrar noção do que deve ser feito, isso não basta.
Esses prazos de décadas tornam urgentes medidas como duplicações e reformas em rodovias. Sob o risco de o país enfrentar uma apagão, o que para muitos analistas já começou, com as filas de navios enfrentadas desde o início do ano nos portos graneleiros.
Neste ano, está claro também que a redução de custos internos passou a ser uma necessidade para a sustentação da própria estrutura de agregação de valor à produção primária. As cadeias do frango e do suíno não estariam em crise, como mostram reportagens setoriais desta edição, se o transporte do milho do Centro-Oeste para o Sul não encarecesse tanto a matéria-prima da ração animal. A logística do futuro não é um sonho, mas uma necessidade, que exige planejamento e ações concretas.