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Abertura do mercado dos EUA chega em momento ruim

O descasamento entre oferta e demanda não poderia acontecer em momento mais inoportuno. Ocorre justamente quando os Estados Unidos, os maiores consumidores de combustíveis do mundo, parecem finalmente dispostos a abrir seu mercado para o produto brasileiro. A suspensão dos subsídios bilionários pagos à indústria de etanol de milho norte-americana, uma antiga reivindicação dos brasileiros, é vista pela indústria sucroenergética nacional como o primeiro passo rumo à consolidação do biocombustível como commodity e uma grande uma oportunidade para ampliar as exportações.

Pressionados por um déficit recorde de US$ 1,4 trilhão e pela possibilidade de estourar o teto da dívida pública, que já chegou ao limite de US$ 14,3 trilhões, os senadores dos EUA votaram, em meados de junho, a favor da antecipação do fim do crédito tributário de US$ 0,45 por galão (US$ 0,12 por litro) de etanol misturado à gasolina e da tarifa de US$ 0,54 por galão (US$ 0,14 por litro) imposta ao produto importado. Os dois benefícios, que expirariam em 31 de dezembro, custam aos cofres americanos em torno de US$ 6 bilhões por ano. Para virar lei, a emenda aprovada no Senado ainda precisa passar pela Câmara dos Repre­­sentantes (deputados federais) e, então, ser submetida à sanção do presidente Barack Obama.

Mesmo que seja aprovada, contudo, o Brasil não deve se beneficiar da abertura das fronteiras norte-americanas. Sem excedente exportável e com dificuldades para abastecer o próprio mercado, ironicamente, é aos EUA que o país tem recorrido para suprir seu consumo doméstico. Nada menos que 96% (391 milhões de litros) das importações totais feitas pelo Brasil durante o primeiro semestre de 2011 vieram dos EUA, conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

"O litro do etanol americano chega aqui a R$ 1,35, praticamente o mesmo preço do produto nacional. É uma coincidência muito feliz, pois, se não fosse isso, teríamos problemas de abastecimento neste ano", relata Tarcilo Rodrigues, diretor da Bioagência.

Ainda sim, a operação oposta –a exportação do combustível brasileiros aos EUA – continua sendo realizada. "É que o nosso etanol, feito de cana-de-açúcar é considerado pelos americanos um combustível renovável avançado porque a capacidade de redução de emissões é superior ao do etanol deles, fabricado a partir do milho. Por isso, recebe um prêmio (valor adicional) de US$ 190 por metro cúbico", explica Rodrigues. Isso possibilita essas operações de "troca" de um produto pelo outro. "Compramos o etanol deles a preços mais baratos e vendemos o nosso a valores mais elevados", conta.

Entre janeiro e junho, 183,5 milhões de litros do combustível brasileiro desembarcaram nos portos norte-americanos, segundo a Secex. O volume equivale a 34% das exportações totais do país, que somaram 545,5 milhões de litros no período. Sérgio Prado, representante da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), esclarece que esses seriam contratos residuais, referentes a negócios de venda fechados em no início do ano. "E nem são de etanol combustível, mas de álcool para a indústria química", justifica.

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