A valorização da produção brasileira e a queda do preço dos fertilizantes no mercado internacional motivaram a antecipação da importação dos nutrientes que serão usados na safra 2014/15. A entrada de adubo no país entre janeiro e abril deste ano chegou a 6,9 milhões de toneladas – 27% a mais do que as 5,4 milhões de toneladas registradas no mesmo período do ano passado, segundo a Associação Nacional para Difusão de Abudos (Anda).
Os analistas preveem também que, pelo segundo ano consecutivo, o Brasil vai bater recorde de aquisição do produto no exterior. A expectativa é alcançar a casa das 22 milhões de toneladas em 2014.
A cotação de dois dos três principais componentes usados pelos produtores (nitrogênio e potássio) despencou na relação entre os meses de abril de 2013 e 2014. O custo de importação da ureia nitrogenada no Porto de Paranaguá, por exemplo, foi de R$ 770 para R$ 700 na comparação entre os dois meses. O preço da mesma quantidade de potássio caiu de R$ 900 para R$ 750. Só o fosfato, também usado no desenvolvimento das plantas, se manteve estável – R$ 1.100 a tonelada.
Houve queda nos preços em dólar e, nos últimos meses, desvalorização da moeda norte-americana frente ao real. “Os preços caíram e motivaram as compras já no segundo semestre do ano passado, mesmo com o dólar forte. Esse cenário se estendeu para o início desse ano e compensou a antecipação”, explica o analista de mercado da FCStone João Marcelo Santucci.
Com a soja valorizada no mercado internacional, a relação de troca de grão por fertilizante no Brasil se tornou atraente, de acordo com diretor executivo da Anda, David Roquetti. Na safra 2012/2013 eram necessários entre 22 e 25 sacas da oleaginosa para comprar uma tonelada de fertilizante. Hoje, os produtores conseguem a mesma quantidade do produto com 17 sacas. “A antecipação tenta também evitar atrasos na entrega às vésperas do plantio, acrescenta Roquetti.
Negócios fechados
Ligados no bom momento do mercado, produtores do Paraná e de Mato Grosso avançam na aquisição de adubo para a safra de verão. A estimativa é que 50% e 70%, respectivamente, do fertilizante necessário para a próxima temporada já foram comprados. O restante das negociações deve ser fechada nas próximas semanas.
Segundo Daniel Fontes Dias, presidente da Coonagro, entidade que reúne 14 cooperativas paranaenses, as importações do grupo se iniciaram ainda em 2013. Restam apenas as aquisições destinadas à safrinha, que devem ser feitas em setembro. “Só estamos esperando os navios chegarem. Antecipamos porque os preços estavam extremamente favoráveis no fim do ano passado”, afirma.
Na Cooperativa Coamo, de Campo Mourão (PR) os últimos detalhes dos contratos foram fechados na última semana. Segundo o superintendente técnico José Varago, a relação de troca é a melhor da história. “Nos últimos 20 anos, nunca [a relação] nunca esteve tão favorável”, comemora.
Cotação global: Janela chinesa deve favorecer aquisições tardias
Quem ainda não comprou os nutrientes para a próxima safra ainda tem chance de pegar bons preços no mercado. Segundo o analista de mercado da FCStone João Marcelo Santucci, a tendência é de queda das cotações dos fertilizantes nitrogenados e fosfatados. O produtor que precisa de potássio, no entanto, deve se antecipar pois a previsão é de alta.
A China, um dos principais exportadores do produto, tem janelas de redução de impostos para o comércio com o exterior, o que reduz os preços. A do fosfato se abriu na última semana e a do nitrogênio tem início em julho.
As cotações mais baixas dos fertilizantes no mercado internacional prometem atenuar os custos da produção de soja para a safra 2014/15. Na Coamo, a estimativa de queda varia entre 7 e 8% para adubo, se mantida a mesma estrutura utilizada na última temporada. A Coonagro avalia uma diminuição de 5%. Considerando outros gastos, os custos de produção sobem perto de 10%, mostram dados do Departamento de Economia Rural (Deral).
As negociações estratégicas de fertilizantes motivam investimentos. Paranaguá deve abrigar uma fábrica da Coonagro, que sonha em ter estrutura própria para importar fertilizantes para seus cooperados desde 2010. Segundo o presidente, Daniel Fontes Dias, até o próximo ano, R$ 100 milhões devem ser investidos para construção de uma fábrica próxima ao complexo portuário.
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