O rebanho aumentou, o Brasil se transformou no maior exportador mundial de carne bovina e a terra da soja se revela também a terra do boi. A atividade cresceu, em números e em tecnologia, mas ainda não tem o mesmo tratamento e nem recebe a mesma atenção dispensada à produção de grãos. Fica difícil, por exemplo, responder qual o tamanho do rebanho bovino brasileiro – que, em tese, é o maior do mundo. Conforme a fonte consultada e a metodologia utilizada, essa estatística pode variar de 160 milhões a mais de 200 milhões de cabeças.

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O censo agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deveria apresentar o dado mais confiável sobre o plantel. Mas a periodicidade dessa sondagem, que deveria ser de cinco anos, prejudica o desenho de um retrato mais fiel do setor – o censo mais recente é de 1996. Desde então, o IBGE se baseia na Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) para definir, anualmente, o tamanho do rebanho. O censo faz um levantamento a campo, enquanto a PPM tem base numa consulta feita pelos técnicos do instituto junto a cooperativas e secretarias de agricultura. Eles também consideram o calendário e o índice de vacinação contra febre a aftosa. Esse é o mesmo dado utilizado pelo Ministério da Agricultura.

Pelos critérios do IBGE, de 1996 a 2004 o rebanho cresceu 30%. Já pelo Anualpec, publicação especializada da FNP Consultoria, o aumento do número de cabeças ficou abaixo de 10%. No mesmo período, uma diferença que passa de 20 milhões de animais. A explicação estaria no período do ano em que a estatística é considerada, diz Eduardo Pedroso, gerente executivo da Associação de Criadores de Nelore do Brasil (ACNB). "O Brasil possui um estoque flutuante de mais ou menos 40 milhões de cabeças, que é a quantidade de animais que são abatidos ao longo do ano."

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Como o processo é muito dinâmico, a cadeia produtiva acaba usando mais os dados da FNP. O indicador do IBGE é sempre maior, mas, na avaliação de Pedroso, "comercialmente" o censo acaba sendo precário, por ser realizado num espaço de tempo que não acompanha a evolução do setor. "Isso é péssimo, uma vez que todo o dimensionamento da atividade é calculado em cima desses números", avalia o dirigente da associação. Ele sugere, ainda, que o ressurgimento da febre aftosa na América do Sul (Brasil e Argentina) deve apressar a realização do novo censo agropecuário. "Se o país não sabe qual o tamanho do rebanho, como vai saber se a campanha de vacinação foi eficiente?"

Além disso, completa Pedroso, com a abertura do mercado externo ao produto brasileiro é preciso saber qual o potencial da produção de carne do rebanho nacional. Esse, aliás, é outro forte indicativo do aumento na produção. Entre 2000 e 2005, as exportações brasileiras de carne bovina cresceram mais de 300% – saltaram de 314 mil para 1,3 milhão de toneladas, assumindo a liderança que antes pertencia à Austrália.

Os números da indústria de nutrição e saúde animal também ajudam a interpretar um pouco dessa matemática. Um exemplo está na Tortuga, maior fábrica de suplemento mineral do Brasil. Com base no incremento de seu negócio, a empresa estima que o rebanho cresça 8% ao ano. Já o braço brasileiro da Merial, segunda empresa no ranking mundial de produtos para saúde animal, registrou em 2005 um crescimento de 7%. Parte desse percentual é sustentado pela linha de bovinos. O grupo mantém no Brasil o maior laboratório do mundo na fabricação de vacina contra aftosa.