"Esta é a região de maior diversidade do Brasil, porque aqui a turma faz chover." A afirmação entusiasmada do presidente do Sindicato Rural de Cristalina, o paranaense Alécio Maróstica, revela como a agricultura do Norte de Goiás se estruturou nas últimas três décadas: à base de altos investimentos em irrigação.
Os agricultores não contam com chuva suficiente, mas têm boa previsibilidade. As precipitações do verão, sempre chuvoso, são retidas em barragens construídas em brejos, formando lagos de até 150 hectares. Com a irrigação, as lavouras chegam a render, por exemplo, 6 mil quilos de trigo por hectare, o dobro do alcançado no Paraná.
Maróstica coordena os projetos de implantação dos pivôs. Nesta safra, o município chegou a 541 bombas, que viabilizam 46 mil hectares. "Somos o município da América Latina com maior área irrigada", afirma. Os 138 produtores que aderiram ao projeto vinham gastando cerca de R$ 9 mil por hectare para implantar a irrigação. A partir de agora, a construção das barragens, que representa um terço desse custo, deve ser custeada pelo governo federal. "Temos potencial para 1 milhão de hectares irrigados em Goiás", diz o especialista.
Além dos 210 mil hectares de soja e 80 mil de milho cultivados no verão, grandes áreas são dedicadas a culturas como abóbora, alho, batata, cebola, couve-flor, feijão. O controle da umidade permite que o produtor escolha qualquer cultura que se adapte aos cerca de 900 metros de altitude e às temperaturas de 30 a 40 graus, com duas ou três safras por ano. Em dez anos, os sistemas de irrigação estariam se pagando.
A Expedição Safra visitou uma área de 2 mil hectares irrigados que correspondem a 40% da Fazenda Capão Grande, do Grupo Figueiredo. O mapa da propriedade está repleto de pivôs. São 20 bombas. O agrônomo que administra a área, Leonardo Mundim Nogueira, conta que a viabilidade vem de contratos que garantem preço especial. O café é um exemplo claro dessa estratégia. A produção alcança qualidade valorizada no mercado internacional. A diferença é de R$ 240 para R$ 310 por saca de 60 quilos. A produtividade chega a 90 sacos por hectare em anos de pico.
A lavoura de café irrigado é plantada em círculos, com o ponto de chegada da água ao centro. Uma estrutura metálica sustenta um raio de pulverizadores (lepas) dispostos exatamente sobre cada carreira de café. Os pneus de sustentação da estrutura metálica percorrem os corredores circulares dia e noite em época de seca. A colheita mecanizada ocorre a partir do terceiro ano.