O agronegócio volta a ser protagonista de uma revolução na matriz energética brasileira e mundial. Assim como ocorreu com a cana, que além de açúcar virou álcool, milho e soja deixam de ser apenas alimentos e começam a ser destinados para a produção de combustível o etanol nos Estados Unidos e o biodiesel no Brasil. O grande apelo é a questão ambiental, que, em tese, justifica a incorporação de áreas agrícolas para um fim mais capitalista que social. Mas o interesse vai muito além de questões de natureza ideológica. O fato mais concreto, é que além de poluente o petróleo é um recurso finito, cada vez mais escasso e caro, realidade que transfere o debate para o campo estritamente econômico.
A preocupação, porém, não vem daí. A agroenergia mexe com o mercado de grãos em todo o mundo. As cotações se elevam e flutuam inclusive acima das médias históricas, o que é bom, a considerar que vivemos uma fase de recuperação do setor, duramente abalado pelas crises das safras 2004/05 e 2005/06. O problema é a especulação, ruim para o produtor, que tem preço alto num momento em que não exite muita disponibilidade de produto. E pior ainda para a política de biodiesel do país, que não encontra respaldo econômico na destinação de matéria-prima do campo para a fabricação de combustível.
No final das contas, os especialistas acreditam que tudo deve se resolver. A pergunta é...a que preço? A três meses da obrigatoriedade da adição de 2% de óleo vegetal no diesel comum, o Brasil ainda não sabe como vai garantir o abastecimento de biodiesel. Pelo menos o governo federal já se convenceu que isso não deve ocorrer através da agricultura familiar, mas do agronegócio comercial. Também deixou de apostar na mamona, oleaginosa considerada ideal pelo alto teor de óleo e também pela facilidade de cultivo em pequenas propriedades a cultura não tem escala. A única saída é a soja, que apesar ter menos da metade do potencial de óleo da mamona, tem volume.
Na edição de hoje, a Gazeta do Povo expõe essa realidade, discute os impasses que colocam em xeque o projeto brasileiro de biodiesel e esclarece qual a participação do agronegócio, seus riscos e desafios. O biocombustível é o tema central da segunda reportagem da série Expedição Caminhos do Campo, que está na estrada para antecipar as tendências da safra 2007/08.