![Com dívida de meio milhão de reais, usina de cana vira ‘dor de cabeça’ para Cargill Acionistas da Canagril, grupo formado por fornecedores de cana da região paulista, não estariam dispostos a colocar dinheiro na companhia. | Henry Milléo/ Gazeta do Povo](https://media.gazetadopovo.com.br/2017/05/b3582af445d86c52fe57a332392fefa8-gpLarge.jpg)
A multinacional americana Cargill pretende encontrar nos próximos meses uma solução para a Cevasa, usina de açúcar e álcool que foi o primeiro investimento da companhia no setor sucroalcooleiro brasileiro, em 2006. A Cargill tem 63% do negócio - o restante está nas mãos de fornecedores de cana reunidos na Cana Agrícola Ltda (Canagril). Apesar de a americana ser a controladora, a gestão do negócio é compartilhada. Com endividamento de cerca de R$ 500 milhões, a usina precisa de um aporte entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões. Essa necessidade de investimento gerou um impasse entre os sócios, segundo apurou o Estado.
De acordo com fontes familiarizadas com o assunto, não interessa mais à Cargill manter esse ativo em mãos. A indefinição sobre o aporte de capital pode afetar ainda mais a saúde financeira da unidade, instalada em Patrocínio Paulista (interior de São Paulo).
Os acionistas da Canagril, grupo formado por fornecedores de cana da região paulista, não estariam dispostos a colocar dinheiro na companhia. Se a Cargill fizer o aporte sozinha, os acionistas seriam diluídos, mas ainda exerceriam influência na companhia, por causa do desenho do acordo de acionistas.
O que está em jogo é o processo de reestruturação da Cevasa, que tem dívidas de R$ 500 milhões com os principais bancos brasileiros, entre eles Bradesco e Itaú, ainda segundo fontes.
As conversas com os bancos estão em andamento, mas a venda do ativo para investidores locais - hipótese que já foi considerada pela Cargill - encontra dificuldades porque a aquisição de operações sucroalcooleiras está em baixa por causa da crise do setor e da economia. A venda de ativos do segmento não está em seu melhor momento, uma vez que os preços estão depreciados, segundo fontes.
Além da Cevasa, a Cargill tem parceria com a SJC Bionergia em três unidades produtoras de açúcar e álcool em Goiás. Em 2014, a múlti uniu-se à Copersucar para criar a Alvean, uma das maiores negociadoras de açúcar do mundo. Esse é um negócio considerado lucrativo no segmento, uma vez que a comercialização de commodities faz parte do DNA da americana, maior companhia agrícola de capital fechado do mundo.
Concentração
O movimento de concentração do setor sucroalcooleiro ficou mais intenso a partir de 2003, quando o uso do etanol como combustível ganhou impulso do governo. Entre 2003 e 2010, o fechamento de aquisições foi intenso, atraindo ao País diversos investidores estrangeiros.
Na época da aquisição da Cevasa pela Cargill, em 2006, o setor prometia ser um forte movimento de consolidação que estava em curso pelo setor - além da Cargill, outras grandes tradings trilharam o mesmo caminho, como ADM, Bunge e Louis Dreyfus, mas nenhuma obteve o sucesso como produtora de açúcar e álcool, uma vez que setor enfrenta uma crise aguda há vários anos.
A ADM, concorrente global da Cargill em grãos, também adquiriu ativos no setor sucroalcooleiro, mas já deixou o negócio no Brasil. A ADM anunciou em 2016 que, após quatro anos procurando um comprador, conseguiu vender de suas áreas de canaviais e uma unidade fabril (destilaria), com capacidade de processar até 1,5 milhão de toneladas de cana por ano, para a JFLim Participações. Os termos de negociação não foram revelados.
Procurada, a Cargill informou, por meio de sua assessoria, que a Cevasa é uma empresa autônoma cuja gestão é compartilhada entre a Cargill e um grupo de produtores de cana-de-açúcar representados pela Canagril. A Cargill disse não fazer comentários sobre assuntos relacionados a empresas que não são controladas por ela. Jorge Rassi, um dos principais porta-vozes da Canagril, também não quis comentar o assunto. O Itaú também não se manifestou. O Bradesco não retornou os pedidos de entrevista.
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