Ex-ministro da Agricultura no governo Lula,coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV) e embaixador especial da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) para o cooperativismo, Roberto Rodrigues acaba de assumir o Conselho Deliberativo da União da Indústria de Cana-Açúcar (Unica). Em entrevista à Gazeta do Povo, ele fala dos desafios e planos para o setor que enfrenta uma crise sem precedentes.
Na sua análise, como será o futuro do setor sucroenergético no Brasil?
Vai depender das políticas públicas. O governo Lula estimulou novos projetos atraindo para o Brasil investimentos vigorosos de companhias poderosas como a Bunge, Dreyfus, Cargil, ADM e petroleiras como a Shell, ABP e Petrobrás porque ficou claro que havia uma grande alternativa energética lastreada no Proálcool. Foi um programa que realmente encantou o mundo. Alimento qualquer país pode produzir com estufa. Agroenergia não. Então, o pessoal veio para cá, fez alavancagem para investir em grandes projetos industriais, e quando veio a crise financeira de 2008, pegou todo mundo de calça curta. Esse pessoal endividado acreditava que as políticas de incentivo iam continuar, mas o que aconteceu foi que o governo tirou a escada desse pessoal e foi uma quebradeira geral. Hoje há 44 usinas fechadas no Brasil, 12 devem fechar este ano e 62 estão em recuperação judicial. A dívida do setor hoje é praticamente do tamanho de uma safra. Por quê? Total falta de política adequada para o setor.
O que está por trás disso?
Para ser competitivo na bomba, o etanol tem de estar no máximo 70% do preço da gasolina. Como o governo decidiu combater a inflação congelando a gasolina, os custos foram subindo e o etanol, que é um produto de origem agrícola, perdeu competitividade. Precisamos de políticas públicas que resgatem o equilíbrio. O governo tirou esse equilíbrio quando eliminou a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). Então, basta reestabelecer a Cide que o equilíbrio volta.
E o governo está disposto a fazer isso?
O governo acha que vai ter inflação. Mas quem é que se beneficia com o etanol? É o usineiro? Não, é o Brasil inteiro. Você não pode jogar fora uma atividade que gera 1 milhão de empregos e beneficia 5 milhões de pessoas. Uma crise da indústria automobilística, que demite 2 mil de pessoas, o governo socorre com PIS, Cofins e resolve. Uma crise do setor sucroalcooleiro, que demitiu 50 mil pessoas nos últimos três anos, ninguém faz nada. E não é só na indústria. É quem produz caldeira, equipamentos, toda uma cadeia. Então uma política deve ser tratada estrategicamente para que o setor volte a ter competitividade. Investir em tecnologia é fundamental, mas você não investe em tecnologia se não tiver renda. Acho que o governo finalmente acordou para isso.
Na região Centro-Norte, considerada a nova fronteira agrícola do Brasil, existem grandes plantas de processamento de cana. Por que a Unica não representa essas unidades?
Essas regiões novas organizaram suas próprias instituições de defesa e representação e está funcionando muito bem. O que é fundamental é que todos trabalhem juntos, seja no Centro-Oeste, no Nordeste ou no Sudeste, que haja uma política única, sobretudo quando se trata de busca de políticas públicas em defesa do setor. Eu já fui governo e sei como funciona isso. Quando um setor é desunido e desorganizado e vem falar com o governo, um de cada vez, cada um pede uma coisa e o governo não dá nada para ninguém. A Unica tem esse nome em busca desse processo de união. E para isso foi criado um Fórum Nacional do setor sucroenergético que está buscando essa articulação entre todos. A ideia é fortalecer o Fórum para que a união beneficie todos.
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