Clima deve reduzir em 8% a produtividade dos canaviais brasileiros na região Centro-Sul| Foto: Albari Rosa/ Gazeta Do Povo

O clima quente e seco que predominou no fim de 2013 e início deste ano ainda gera impacto nas lavouras brasileiras. Depois dos grãos, é a vez dos canaviais consolidarem desempenho abaixo do esperado. Na Região Centro-Sul do país – que concentra mais de 90% da produção nacional – o setor calcula uma retração de 3% na oferta de cana-de-açúcar em comparação com o ciclo anterior, para 580 milhões de toneladas. A quebra ocorre em um momento de incerteza quanto aos preços.

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Conforme a União da Indústria da Cana-De-Açúcar (Unica), o fator climático deve reduzir a produtividade dos canaviais em 8% na comparação com 2013/14, quando o rendimento foi de 79,8 toneladas de cana por hectare. Embora haja redução na oferta, não há reflexo imediato sobre os preços, principalmente na cadeia do açúcar. “Os estoques mundiais estão elevados há três anos. Caso a quebra seja confirmada haverá um ajuste, mas isso não vai acontecer no curto prazo”, aponta o analista da consultoria FCStone, Thiago Gil. As exportações brasileiras do alimento caíram 14% em volume e 28,6% em valor nos cinco primeiros meses do ano, indicam dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Os especialistas indicam que o impacto da falta de matéria-prima deverá ocorrer no final do ciclo. “Ou teremos uma safra mais curta ou as indústrias terão menos dias de processamento”, contextualiza o diretor técnico da Unica, Antonio de Pádua Rodrigues. “Isso eleva os custos de produção e reduz o faturamento do setor”, complementa.

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O analista da Safras & Mercado Maurício Muruci destaca que a incerteza quanto à oferta de cana-de-açúcar na Índia, uma das principais produtoras mundiais, pode ser favorável ao açúcar no longo prazo. “A previsão de El Niño [aquecimento das águas do Oceano Pacífico] pode comprometer a safra do país”, indica. O especialista aponta que já houve valorização na Bolsa de Nova York e a tendência é de alta. “Em janeiro a cotação era de US$ 0,17 por libra-peso. Agora está em US$ 0,18 e até o final do ano deve chegar a US$ 0,20”, indica.

Etanol

No caso do combustível, a disputa com a gasolina é apontada como o maior limitante. O último levantamento de preços da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), válido para a semana encerrada em 28 de junho, indica que o etanol é mais vantajoso em apenas três estados (Paraná, São Paulo e Goiás). “Se já havia um desequilíbrio, neste ano ele deve ser ainda maior”, aponta o diretor técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Pádua Rodrigues.

A Unica estima que 56,4% da cana processada seja direcionada para a fabricação do biocombustível, um aumento de 1,66 ponto porcentual em relação à safra passada.

Os resultados desanimadores limitam investimentos no campo. O produtor Valdir Fries, de Itambé (Norte), dedica 72 hectares à cana-de-açúcar, mas revela que os grãos já se tornaram o carro-chefe na propriedade. “Há três anos, no momento de fazer a reforma dos canaviais, decidi extinguir metade da área, que passou para a produção de grãos”, relata.

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Governo reedita programas de incentivo ao setor

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) confirmou na última semana a reedição de dois programas de incentivo ao setor sucroenergético, com orçamento de R$ 5 bilhões. O BNDES Prorenova é direcionado a renovação e ampliação dos canaviais, enquanto o BNDES PASS fomenta a estocagem de etanol.

O Prorenova terá recursos de R$ 3 bilhões e vale até dezembro. O Banco ampliou o limite de financiamento em 19%, para R$ 6,5 mil por hectare. Grupos econômicos têm limite de R$ 150 milhões. No caso do PASS, o orçamento foi ampliado a R$ 2 bilhões porque os recursos da temporada anterior, de R$ 1 bilhão, foram insuficientes.

Os juros são compostos por custo financeiro, remuneração do BNDES, taxa de intermediação financeira, além de remuneração das instituições financeiras. Ainda assim, tendem a ficar abaixo dos praticados no mercado.

OFERTA: Paraná escapa da crise e amplia produção

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Ao contrário de outros estados do Centro-Sul que ainda sofrem com o déficit hídrico, o Paraná vai colher uma safra de cana maior. A Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (Alcopar) projeta ligeiro aumento, para 43 milhões de toneladas. “Teremos um resultado semelhante ao do ano passado”, indica Miguel Tranin, presidente da entidade. Segundo ele, a indústria vai priorizar a produção de etanol em vez de açúcar. Para a Alcopar, as usinas paranaenses vão produzir 3 milhões de toneladas de açúcar e 1,45 bilhão de litros de álcool. Deste total, 950 milhões de litros serão destinados à produção de etanol hidratado, e 500 milhões de litros para o etanol anidro. Há ligeira queda na oferta do alimento e aumento na produção do combustível em comparação com 2013. O setor pede apoio governamental para o produto, elevando a mistura do etanol à gasolina para 27,5%. Desta forma, haveria maior demanda para o produto. Hoje, o porcentual de mistura é 25%.

596 milhões de toneladas de cana-de-açúcar foram colhidas no Brasil no ano passado. Potencial identificado para a temporada atual, que começou em abril e segue até março, era de 600 milhões de toneladas. Paraná consegue evoluir com o volume de produção.