No calor do debate sobre a sustentabilidade do planeta, o agronegócio mostra, com ações concretas, que tem se tornado menos agressivo ao meio ambiente. Apontado como um dos setores com maior responsabilidade sobre a emissão de gases que causam o efeito estufa, o campo vem mudando suas práticas (veja no quadro). Conforme especialistas, o impacto da agropecuária é crescente, porém, menos por falta de consciência e mais pela necessidade de expansão da produção de alimentos. O desafio é acompanhar o aumento da população mundial de 7 bilhões para 9 bilhões até 2050.

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Desde a última Confe­­rência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desen­­volvimento Humano, realizada em 1992, também no Rio de Janeiro, a agropecuária brasileira ampliou suas apostas em práticas conservacionistas e criou outros meios de produzir mais de maneira ecologicamente correta, o que, de quebra, resultaram em ganhos econômicos à atividade. "A agricultura brasileira tem trunfos na mão, entre eles a regularização das propriedades diante do novo Código Florestal, o aumento de aplicação de programas como o de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), do governo federal, e de recuperação de áreas degradadas – principal item considerado para o setor no texto assinado na Rio+20", analisa Rodrigo Carvalho Lima, gerente geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), que participou da Rio+20. Segundo ele, essas ações agrícolas foram consideradas fundamentais para sustentar o conceito de "economia verde", que tentou se cunhar no evento da ONU no Rio de Janeiro e "por isso a agricultura deve ser incentivada", diz parte do texto assinado pelos líderes mundiais.

Faltam metas

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Apesar do consenso quanto ao que se deve fazer para alcançar a economia verde, a Rio+20 não determinou especificamente como isso será feito e nem a meta de cada nação para o desenvolvimento sustentável. No entanto, houve uma aproximação mais harmoniosa no discurso de ruralistas e ambientalistas. Para Ana Cristina Barros, bióloga e representante da organização não governamental The Nature Conservancy (TNC) no Brasil, o movimento convergente é saudável para ambos os lados. "O discurso da agropecuária tem considerado o lado ambiental e vice-versa. O gatilho para uma mudança de escala nessa cooperação é a gente discutir a ocupação, o zoneamento do território nacional no médio e longo prazos", afirma a ambientalista que também participou da conferência no Rio.

A partir da necessidade de se abrir entre 7 milhões e 8 milhões de hectares nas próximas décadas, Ana Cristina acredita que é preciso mais maturidade e consciência na discussão entre os dois setores. "Será que não podemos aumentar a produção e em menos área? Em havendo necessidade de novas áreas, precisamos discutir onde serão os melhores lugares para isso acontecer, considerando a aptidão, a logística e a conservação", destaca ela, que atribui a melhora do sistema produtivo agropecuário brasileiro à pressão da legislação e do próprio mercado, "que tem exigido cada vez mais uma produção ambientalmente e socialmente correta".

Mudanças Concretas

Além de ampliar a adoção de práticas de conservação do meio ambiente e contra a poluição, a agropecuária aposta cada vez mais em métodos de produção sustentável.

Plantio na palha

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Josué Teixeira/ Gazeta do Povo

Considerado o maior trunfo da agricultura brasileira, a técnica de plantio direto é adotada nas lavouras de Norte a Sul do país. O sistema, que tem o Paraná como um dos pioneiros, é adotado em mais de 30 milhões de hectares de áreas. Evita que o solo seja revolvido, o que impede a emissão de gases na atmosfera, conserva a umidade na terra e ainda "sequestra" parte do dióxido de carbono no meio ambiente.

Nascentes preservadas

Cooperativas e outras organizações que envolvem produtores rurais ampliaram nos últimos anos programas de proteção de nascentes, premiando projetos e divulgando iniciativas. Ainda há muitas nascentes a serem recuperadas, mas nos últimos dois anos o país encontrou um caminho para isso. Em Apucarana (Norte do Paraná), um fundo remunera a preservação de 600 nascentes nas bacias dos rios Pirapó, Tibagi e Ivaí. Os recursos vêm da conta da água tratada e de repasses institucionais.

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Transgênicos e agrotóxicos

Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

As lavouras transgênicas chegaram a dois terços das plantações de soja e milho do Brasil na última safra, numa era de expansão das lavouras e da produtividade. Nessas áreas, o volume de agrotóxicos necessário para produzir a quantidade de grãos alcançada seria bem maior sem as sementes modificadas, sustentam multinacionais como Monsanto, Syngenta e Bayer CrospScience. Por outro lado, organizações ambientais como a Terra de Direitos alertam que o uso de produtos químicos continua aumentando. Variedades resistentes a insetos, que chegaram ao mercado há dois anos, dispensam inseticidas e são a esperança de retração nas estatísticas dos agroquímicos.

Integração rentável

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A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é atualmente uma das grandes apostas do setor para a sustentabilidade. A tecnologia permite produção de grãos, carne, leite, madeira e fibras numa mesma área. O Paraná é um dos estados que mais investe na técnica, com cerca de 300 mil hectares. A meta do governo federal, que tem incentivado a integração por todo o país, é de chegar a 15 milhões de hectares nos próximos 20 anos. Além de otimizar o uso da terra e preservar o solo, o sistema gera renda extra para o agricultor.

Madeira certificada

Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

Considerada uma das atividades mais rentáveis do agronegócio, a silvicultura brasileira cresce a passos largos, de forma sustentável, e coloca hoje o país entre os 10 maiores apostadores nesse setor. Entre 2005, quando se inicia a série histórica de dados referentes à área plantada com florestas no Brasil, e 2010, o país aumentou em 20% o tamanho do terreno ocupado por eucalipto e pinus. As duas espécies ocupam atualmente mais de Terceiro maior produtor nacional de madeira legal, o Paraná tem mais de 840 mil hectares plantados, e conta com fazendas reconhecidas internacionalmente como modelo de produção.

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Logística reversa

Nenhum outro programa de logística reversa consegue os resultados alcançados no recolhimento de embalagens de agrotóxicos para reciclagem. O programa coordenado pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV) custa R$ 60 milhões a indústrias e distribuidores e vem dando destinação a 94% dos galões, pacotes e outros, porcentual apontado como recorde mundial. Desde 2002, o programa recolheu 219 mil toneladas de embalagens. Até a década de 80, a maior parte do material era simplesmente queimada.

Diesel de soja

O Brasil passou a consumir 2,5 bilhões de litros de biodiesel ao ano em 2011, ultrapassando a líder Alemanha. O programa, que consiste na mistura de 5% de combustível renovável ao diesel (índice que deve chegar a 20% em 2020), usa principalmente a soja como matéria-prima (70%). O governo revê o estímulo à produção de oleaginosas como a mamona e o pinhão-manso, culturas com potencial mas ainda não cultivadas em escala.

Mais orgânicos

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Antônio Costa/ Gazeta do Povo

Embora ainda ocupe pequena parcela da área agrícola do país, a produção de alimentos totalmente livre de agrotóxicos tem ganhado significativo espaço no meio rural. Nos últimos cinco anos, o número de propriedades que investem nesse nicho de mercado mais que dobrou, saltando de pouco mais de 5 mil em 2006 para cerca de 11,5 mil em 2012, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Com mais de 7,3 mil produtores, o Paraná se destaca nacionalmente na produção de hortaliças, cultivadas principalmente na Região Metropolitana de Curitiba. Ao todo, o estado colhe cerca de 150 mil toneladas de alimentos orgânicos nesta safra.

Uso de resíduos

Hugo Harada/ Gazeta do Povo

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O aproveitamento de resíduos avança em diversos setores, como o da cana. As indústrias de açúcar e álcool comprovaram na última década a lucratividade da produção de eletricidade com bagaço. Uma usina de porte médio pode gerar 13 MW por hora, o suficiente para abastecer um município de 70 mil habitantes, que custariam R$ 1,5 milhões ao mês. Os custos de operação ficam em cerca de 70% desse valor em regiões com fartura de matéria-prima.

Queimada zero

O movimento contra a queimada de cana-de-açúcar foi liderado por São Paulo em 2007 e, logo em seguida, aderido por todos os estados brasileiros. Atualmente, o Paraná aprovou em 2010 uma resolução que prevê a eliminação gradual da prática de incendiar a palha dos canaviais. A meta do setor para a ‘queima zero’ é 2025.