Indianópolis Com a mesma precisão com que, por mais de 30 anos, cortou e costurou ternos, camisas, calças e até fraques qualidades que lhe deram fama em boa parte do Noroeste paranaense , Angelo Romero, 65 anos, maneja o instrumento cortante que, meticulosamente, retira a camada de 1 milímetro da casca da seringueira. Com menos que isso, a árvore libera quantidade menor de látex do que poderia. Um corte mais profundo prejudicaria o cerne da planta, comprometendo sua produção futura.
Autodidata, a ponto de fabricar a própria faca de sangria, Romero cuida sozinho, e com extremo capricho, das 2,1 mil seringueiras plantadas no sítio de seis hectares, a menos de 200 metros da Igreja Matriz de Indianópolis, um município agrícola de 4,1 mil habitantes. Considerado louco em 1990, quando decidiu plantar seringueira, Romero atribui o acerto a "golpe de vista".
"Percebi que, na terra arenosa, o reflorestamento ajuda o solo com oxigênio e cobertura de folhas", ensina esse homem que nem chegou a frequentar a escola formal, mas lê com desembaraço tudo o que é publicado sobre heveicultura. Em pouco tempo, substituiu o café, então uma cultura decadente, pelo seringal. Hoje ele já tem 1.850 árvores em produção. Cada uma é sangrada, religiosa e habilmente, a cada quatro dias. No verão, Romero acorda às 5 horas, para enganar as seringueiras, que teimam em reter o leite nos dias de calor. Para isso adaptou uma lâmpada, movida a bateria, em um capacete. O rendimento compensa a dedicação. Com a produção de cerca de 1,8 mil quilos de látex durante dez meses por ano, Romero obtém um rendimento médio, livre, de R$ 2,2 mil mensais. Vive tranqüilo no sítio com a mulher, Maria Estela, de 61 anos.