Se você ainda associa a palavra ‘radiação’ a algo negativo, é melhor rever seus conceitos. A Rosatom, empresa da Rússia líder no mercado de tecnologia nuclear, está investindo pesado para provar o contrário. Entre suas áreas de atuação, a companhia utiliza a energia para irradiar alimentos.
“É algo totalmente inofensivo, e que ajuda a aumentar o prazo de validade dos produtos”, explica o presidente da Rosatom América Latina, Ivan Dybov. Na última semana, ele e seu vice, Sergey Krivolapov, estiveram em Curitiba para participar do 5º Fórum de Agricultura da América Latina, e fazer uma reunião com representantes do Governo do estado do Paraná.
Com uma unidade no Brasil desde 2015, o objetivo da visita foi mostrar como a irradiação pode esterilizar de produtos médicos a alimentos. À Gazeta do Povo, os executivos explicaram que a preservação dos produtos é a tarefa mais importante da indústria de alimentos, e esta é uma nova alternativa.
Estudos da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) apontam que a perda global de alimentos é de 30% ao ano, o que significa um total de 1,6 bilhão de toneladas que vai para o lixo. Quando o assunto são frutas, vegetais e raízes, esse índice é de quase 50%.
Saem os pesticidas, entra a irradiação em alimentos
Mas como convencer que a irradiação em alimentos é segura? Segundo a Rosatom, pesquisas da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), da FAO e da Organização Mundial da Saúde (OMS) não perceberam nenhuma mudança visível em alimentos irradiados.
A irradiação pode ser utilizada em diversos alimentos, acabando com bactérias e organismos prejudiciais à saúde, seja em frutas, verduras ou carnes. No processo, são utilizados feixes de irradiação, que passam através dos pacotes ou são aplicados em armazéns, silos e depósitos de grãos.
“A técnica previne a propagação de insetos e mantém a comida fresca por mais tempo”, exemplifica Krivolapov. Ele emenda: também é possível irradiar sementes, que se tornam mais resistentes a pragas, o que faz o alimento ser produzido, desde o plantio, de forma mais saudável, e sem exigir tanto o uso de defensivos agrícolas nas lavouras.
A Rosatom estima que as perdas devido às pragas em armazéns podem chegar a 15% do estoque nos primeiros meses, e até 40% nos meses seguintes, sem o uso de radiação. Para comprovar a eficiência dos recursos, a companhia traz como exemplo o uso com sucesso da técnica desde os anos 1980 no Porto de Odessa, na Ucrânia.
O Brasil já conta com outras empresas - além dos russos - atuando na área, como a Companhia Brasileira de Esterelização (CBE) e a EB Engenharia. Contudo, atualmente, no Brasil, para evitar essa proliferação são as técnicas mais frequentes são as tradicionais, como resfriamento e uso de agroquímicos. Mas a Rosatom garante que há vantagens na utilização da radiação, como melhor eficiência, tratamento rápido e uniforme, além da garantia de que - segundo a companhia - o processo é ecologicamente correto.