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Alto risco, mas com alta rentabilidade

Guarapuava – Atividade de alto risco, mas também de alta rentabilidade, produzir batata pode levar o agricultor do céu ao inferno em apenas uma safra. A um custo de produção de R$ 13 mil por hectare (média), a frustração de safras já obrigou produtores a se desfazerem de máquinas e até vender propriedades para honrar compromissos com os agentes financeiros.

Mas por outro lado, a cultura também pode significar lucro certo. Em tempos de crise na agricultura tradicional, plantar batata pode representar a salvação da lavoura. Pelo menos é essa a realidade dos produtores de algumas regiões do Paraná, que na última safra, encerrada em março, registraram faturamento até 250% superior ao valor investido por hectare.

"Esse foi um ano excepcional, atípico, em função da produtividade, preço e qualidade da batata colhida", explica o produtor Eduardo Kazahaya, de Guarapuava (Região Centro-Sul). Junto com um sócio, Kazahaya começou a produzir batata há 22 anos. Hoje, com uma lavoura de 100 hectares, o produtor também possui a própria beneficiadora, que lava e separa o produto colhido. Toda a sua produção é destinada ao estado de São Paulo, para ser vendida em supermercados.

Na última safra, que se encerrou no final de março, a produtividade da lavoura de Kazahaya chegou a 37,5 toneladas por hectare, quase o dobro da média estadual, que foi de 19,35 toneladas por hectare. Como o preço de venda não variou muito nessa época, o lucro do produtor foi alto: mais de duas vezes o valor investido. "Essa é uma cultura muito arriscada. Por isso é preciso estar por dentro da área, ter técnica e uma boa semente para uma boa produção", explica o produtor.

Para não sofrer com a variação dos preços de venda, comum na batata, Kazahaya diversificou sua produção e não fica dependente de apenas uma cultura. "Planto soja e milho e tenho atividade durante o ano inteiro", explica. Em função do clima, o produtor colhe duas safras de batata por ano. Em Minas Gerais, maior produtor do país, são três safras anuais.

Se para os grandes produtores o lucro foi bom, os pequenos também não reclamaram nesta safra. No entanto, os ganhos foram mais modestos. O agricultor Robercil Teixeira plantou 35 hectares e colheu uma média de 31 toneladas por hectare. Como não possui beneficiadora, ele vende toda a produção para uma classificadora de Guarapuava. Com isso, seu lucro foi de aproximadamente 50%. "O preço correu bem nessa safra e a rentabilidade foi boa", afirma Teixeira.

Como é um tubérculo perecível, que exige muito cuidado, o plantio de batata é considerada uma atividade de risco. O seu custo também é alto com a compra de sementes – geralmente importadas –, aplicação de fertilizantes, defensivos agrícolas, insumos para a terra, além de beneficiamento e transporte. O custo do plantio de soja, por exemplo, não chega a R$ 1,2 mil o hectare, menos de 10% do custo da batata.

Não é raro encontrar entre os atuais produtores quem teve que vender bens para pagar dívidas. Há 17 anos no ramo, Teixeira foi um dos agricultores que perdeu muito. "Já tive que vender maquinário e um barracão por causa das dívidas", lembra. O pequeno produtor Wilson Szchornak também teve problemas financeiros com o plantio de batata e já vendeu uma propriedade de 120 hectares para pagar as contas. No entanto, os dois ainda continuam na atividade. "Plantar batata, às vezes, é ingrato. Mas é uma coisa que está no sangue", diz Teixeira.

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