A independência do Brasil na importação de fertilizantes também passa pelo subsolo da maior floresta tropical do planeta. Além dos rios que servem ao escoamento da produção de grãos do Centro-Oeste, no Amazonas há pelo menos cinco grandes jazidas de cloreto de potássio, uma das principais matérias-primas usadas na fabricação de adubo para o campo. A descoberta mais recente fica em Autazes, a pouco mais de 100 quilômetros de Manaus. O pequeno município, conhecido como a capital do leite – e agora do potássio –, concentra uma mina com 612 milhões de toneladas, conforme aferição da Potássio Brasil, empresa canadense que tem direitos de pesquisa na região. As amostras apontam para um teor de 33% cloreto de potássio a pouco mais de 600 metros de profundidade, a mais rica de todas as outras sondagens já feitas.
Estima-se que ao todo existam cerca de 2 bilhões de toneladas do minério encravadas na Bacia do Amazonas, de 400 a 1 mil metros abaixo da superfície. A exploração promete reduzir os custos de produção do agronegócio brasileiro, que importa 70% de todo fertilizante que consome, e poderá ser iniciada em quatro anos, a depender da liberação de licenças e de concessões governamentais.
As minas vêm sendo mapeadas há pelo menos quatro anos por um grupo de investidores estrangeiros e nacionais. “Já fizemos mais de 50 furos. Metade deles está mineralizado. Agora, a fase de trabalho é de estudos de engenharia para construção de minas e de metalurgia, para separar o cloreto de potássio do cloreto de sódio”, explica o geólogo e diretor de exploração da empresa, José Fanton. Até o momento, foram gastos R$ 180 milhões nos trabalhos de mapeamento e perfuração. Parte dos recursos foi viabilizada por empresas que atuam no Norte do Brasil e também por estrangeiros.
O projeto de extração do cloreto na Amazônia é calculado em U$$ 2 bilhões e deve ser coberto por fundos de investimentos. A expectativa, segundo Fanton, é começar a produzir em 2018. A Potássio Brasil pretende retirar cerca de 2 milhões de toneladas de cloreto ao ano, volume suficiente para suprir apenas uma pequena parcela do mercado nacional. Em 2013, as lavouras brasileiras consumiram mais de 31 milhões de toneladas de fertilizantes – 21,6 milhões de toneladas foram importadas, sendo perto de 7 milhões de toneladas de cloreto de potássio.
Hoje, somente uma jazida é explorada no Brasil. A mina de Taquari-Vassouras, em Sergipe, rende cerca de 600 mil toneladas ao ano. A Vale, detentora dos direitos de exploração, pretende triplicar a produção até 2015. Ainda assim, o país precisará recorrer a fontes externas. No caso do potássio, a dependência atual é de 90%. O produto misturado ao fósforo e ao nitrogênio compõe a formulação mais usada pela agricultura, o NPK.
Cálculos da Potássio Brasil indicam que o produto nacional poderia custar US$ 52 por tonelada, contra mais de US$ 200 que hoje são gastos para importar uma tonelada do insumo do Canadá, por exemplo.
Idade da pedra
A formação de camadas de cloreto de potássio com mais de 4 metros de altura no fundo da terra é justificada pela presença de mar na região há milhões de anos, explica Fanton. “Essa região era aberta para o Oceano Pacífico, na época em que o continente americano ainda era conectado ao africano. Era como se fosse um grande valetão, tipo o Mar Vermelho, onde se depositou essa sequencia salina. Dentro dela, houve a época que se teve a deposição de potássio, há aproximadamente 300 milhões de anos. Com a mudança do ambiente geológico, o sal ficou isolado ali”, detalha.
Além de Autazes, existem depósitos de cloreto nas regiões de Fazendinha, Arari, Itacoatiara e Novo Remanso.
Entenda o processo: Dos estudos iniciais até o beneficiamento, processo de produção do cloreto de potássio tem cinco etapas.
• Sondagem
Os geólogos definem as áreas que serão perfuradas analisando o histórico do solo. Os depósitos de sais só existem em regiões de mar. No caso da Amazônia, as jazidas encontradas são da época em que os continentes americano e africano eram conectados, antes da formação do Rio Amazonas.
• Furos
Uma broca perfura a terra a uma profundidade de até 700 metros até encontrar cloreto de potássio. Amostras do solo são colhidas de metro em metro, armazenadas em local refrigerado e etiquetadas. Cada furo realizado na Bacia do Amazonas custou R$ 2 milhões. Como hoje a região é tomada por grandes rios, o cuidado precisa ser redobrado, pois o sal não pode ter contato algum com uma gota sequer de água doce.
• Minas
As minas precisam ser construídas em terra firme e podem ficar distantes da área onde está o depósito a ser explorado. Para iniciar a operação são escavados dois grandes poços com elevadores – um para descer equipamentos necessários à exploração até a profundidade da mina e outro por onde descem os equipamentos de ventilação.
• Subsolo
Com a construção da mina e do sistema de ar, trabalhadores podem descer sem correr o risco de falta de oxigênio. Além da extração, na mina é possível fazer transporte e até manutenção dos equipamentos. Os operadores lidam com grandes máquinas (brocas), que vão ‘roendo’ o solo e, ao mesmo tempo, extraindo o minério. Ainda no fundo da terra, o produto é triturado para ser transformado em pedras menores.
• Transporte e beneficiamento
Um sistema de correias e de elevadores carrega o fertilizante até a superfície, onde está a usina de beneficiamento. Nessa estrutura, o produto passa pelo processo de segregação, britagem, peneiramento, moagem, deslamagem (limpeza), flotação (onde há adequação química, segregação do cloreto de potássio do cloreto de sódio), centrifugação, secagem e compactação (padronização do tamanho).
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