Quando a ideia é boa, ela pode surgir ao mesmo tempo para várias pessoas. Foi o caso da “invenção” da agricultura, segundo três estudos com o material genético tanto de antigos agricultores como de pessoas atuais.
Os resultados mostram que “múltiplas populações geneticamente diferenciadas de caçadores-coletores adotaram a agricultura no sudoeste da Ásia”, segundo os autores de um dos estudos, publicado na revista “Science”. Os outros dois, que chegaram a conclusões semelhantes, estão disponíveis no site especializado em biologia bioRxiv.
A região onde surgiu a agricultura tem um nome clássico, “Crescente Fértil”, considerada o centro de origem das plantas domesticadas. O termo foi cunhado por James Breasted em 1906 e se referia aos primórdios das civilizações agrárias no Egito e na Mesopotâmia. O termo foi popularizado por Gordon Childe em 1935 para identificar os locais do que ele chamou de “Revolução Neolítica”.
O Neolítico -popularmente conhecido como a Idade da Pedra Polida- mostrou grandes avanços técnicos nas comunidades humanas. Mas a maior mudança, revolucionária, foi a criação e disseminação da agricultura.
As pequenas comunidades que viviam de caçar e coletar frutos passaram a plantar diversas culturas e também a domesticar animais. Com isso também se criou o estímulo para largar o modo de vida nômade e adotar a vida sedentária em vilas e aldeias.
Sem a agricultura e o pastoreio teria sido impossível para a humanidade produzir comida suficiente para sustentar o espetacular aumento da população. Estima-se que havia cinco milhões de pessoas em todo o planeta 10 mil anos atrás, quando começou a Revolução Neolítica. Hoje há mais de sete bilhões de pessoas na Terra.
A visão tradicional, baseada em grande parte na arqueologia, era que uma população cultural e geneticamente homogênea teria começado a Revolução Agrícola. Mas agora o sequenciamento do DNA de antigos habitantes da região das montanhas Zagros, entre Irã e Iraque indicou uma variedade humana inesperada.
Os ancestrais dos agricultores de toda a Europa vieram da região da Anatólia, Turquia. Comparando com o material genético dos pioneiros agricultores, é possível que os que mais se aproximam dos antigos anatolianos vivam hoje na Sardenha, ilha no mar Mediterrâneo.
Já os antigos fazendeiros das montanhas iranianas revelaram ter um DNA bem diferente. Curiosamente, os quatro esqueletos estudados no artigo da “Science” de antigos agricultores mostraram ter maior afinidade com a população atual de zoroastrianos (seguidores de uma antiga religião persa), bem anterior à islamização do atual Irã.
Pois apesar de viverem relativamente próximas, as populações ancestrais eram geneticamente distintas. A pesquisa liderada por Joachim Burger, da Universidade de Mainz, Alemanha, sugere que os dois grupos de agricultores se separaram da população ancestral entre 46 mil a 77 mil anos atrás.
“Nós temos uma revolução agrícola extremamente complexa que foi criada por pessoas que eram extremamente diversas”, declarou Burger.
Os três estudos envolveram dezenas de pesquisadores de países como EUA, França Israel, Suécia, Irã, Croácia e China para compilar o mosaico genético da humanidade de hoje, e de 10 mil, 9.000 ou 6.000 anos atrás.
Um dos estudos, feito por uma equipe de 52 pesquisadores, analisou o DNA de 44 habitantes do Oriente Médio que viveram entre 14 mil e 3.400 anos atrás.
A equipe, coordenada por David Reich, da Universidade Harvard, concluiu que “os primeiros agricultores do sul do Levante -Israel e Jordânia- e das montanhas Zagros (Irã) eram extremamente diferenciados geneticamente, e cada um descendia de caçadores-coletores locais. Na época da Idade do Bronze, as duas populações e os agricultores relacionados com a Anatólia tinham cruzado uns com os outros e com os caçadores-coletores da Europa para reduzir a diferença genética”.
Eles lembram que o impacto desses agricultores do Oriente Próximo foi estendido para bem mais longe. Os agricultores aparentados com os da Anatólia se espalharam para a Europa; outros agricultores relacionados com os do Levante se espalharam para a África Oriental; agricultores relacionados com os do Irã se espalharam para a estepe da Eurásia; e pessoas relacionadas tanto com os primeiros agricultores do Irã e aos pastores da estepe eurasiática se espalharam para o leste até o sul da Ásia.
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