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R$ 65 por saca

de soja, pagos atualmente no Paraná, equivalem a US$ 17,35 dólares. Um ano atrás, os R$ 58,30 oferecidos equivaliam a US$ 23,22. Ou seja, o preço interno subiu 11% em real mas caiu 25% na moeda americana.

A desvalorização do real sustenta aumento na arrecadação das cooperativas do Paraná neste ano. Mas na análise de especialistas, apenas evita o pior. E cria um quadro de alto risco.

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Alysson Paolinelli, afirma que o mais preocupante “é que a instabilidade no câmbio não vai parar por aqui”. “O Brasil ainda é muito dependente na compra de insumos e nós estamos sem nenhum planejamento estratégico para buscar autossuficiência nestas áreas.”

O presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gustavo Junqueira, avalia que a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, também é um reflexo da “desorganização econômica”. Em sua avaliação, há pouca eficácia na taxa atual, de 14,25% ao ano. O gestor de Produtos e Desenvolvimento de Concessionárias da AGCO no Brasil, Bernhard Kiep, que também é produtor rural, frisa que a alta do dólar, que traz maior receita na exportação, não necessariamente significa maior lucro.

O professor titular da Universidade de São Paulo (USP) Décio Zylbersztajn afirma que o governo está de mãos atadas em relação aos juros e ao câmbio, mas deve agir no que é de sua competência, fazendo o ajuste fiscal. “E quanto mais se deterioram as condições de governabilidade, maior a condição de fazer a política fiscal que precisa ser feita”, opina, acrescentando que não considera que o governo esteja engajado no ajuste fiscal.

Argentina

Gustavo Junqueira afirmou que produtores rurais da Argentina se prepararam nos últimos anos para uma eventual baixa nos impostos à exportação, ampliando estoques de commodities para vendê-los com maior margem no futuro. “A Argentina hoje tem US$ 8 bilhões armazenados em milho, trigo e soja. Parece pequeno, mas basta comparar com a reserva do país em moeda estrangeira, que está em torno de US$ 27 bilhões”, afirma.

Junqueira defende que o governo brasileiro deveria se aproximar do recém-eleito presidente da Argentina, Mauricio Macri, para negociar como se dará a “desova de estoques” no mercado internacional.

“Produtores argentinos estão há anos com estoques e precisam gerar liquidez. Isso pode derrubar os mercados internacionais. Talvez não afete diretamente a carne, mas isso vai afetar outras culturas”, comenta. O presidente da SRB também alerta que a China é parceira mais próxima da Argentina que do Brasil – e pode tomar para si os estoques. Se este for o caso, o país teria condições de “passar a arbitrar os mercados com os US$ 8 bilhões”.

Reversão de expectativa

O gestor do fundo de investimentos Sparta, Victor Nehmi, revela que apostava na queda dos preços dos grãos, mas que tem revertido suas posições nos últimos meses. “Com o El Niño, desorganização climática e desestímulo à produção, não estamos mais vendidos. Estivemos nos últimos meses revertendo”, afirma.

O gestor também antecipa que fundos estão de olho em outras oportunidades de investimento e veem na Bolsa de Valores de São Paulo oportunidades de expandir seus ganhos. “Acho que o driver agora será, pasmem, comprar ações. As ações estão muito baratas”, afirma Nehmi, que prevê que o Ibovespa possa retomar os níveis de 70 mil ou 80 mil pontos, quando houver condições para uma transição no governo, seja em breve ou em 2018.

Em suas ponderações, Gustavo Junqueira se diz preocupado com o produtor que atua somente na engorda e antecipa margens negativas, a depender de como os produtores vão negociar lotes de bois magros nos próximos anos.

A respeito dos grãos, presidente da SRB critica o Plano Safra 2015/16. “O anúncio do plano deste ano foi uma verdadeira pedalada política. Não houve dinheiro, ele não chegou na hora do plantio, em que se precisava. Houve sim uma seleção maior por crédito e isso, possivelmente, pode diminuir parte da área plantada de grãos, mesmo com preços melhores”, prevê.

Décio Zylbersztajn espera que a “economia, na melhor das hipóteses, comece o cenário de ajustes” em 2016, situação que não considera de todo favorável. “Não vamos passar incólumes por isso, porque o nível de investimento continua muito pequeno e compromete nossa produtividade nos próximos períodos”, argumenta. Neste ambiente, o professor da USP pondera que produtores menos tecnificados se provam mais resilientes, já que têm custos financeiros menores.

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