O Paraná tem vocação para produzir biodiesel sem usar soja. É o que mostram as pesquisas da Fundação ABC, que orientam produtores das cooperativas Capal, Batavo e Castrolanda, concentrados na Região dos Campos Gerais.
Com a expectativa em relação à bioenergia, a instituição passou a dedicar 8% de seus ensaios a culturas como girassol, mamona e canola. O girassol é considerado a opção (alternativa à soja) mais viável, pela alta concentração de óleo, que variou de 35% a 50% em sementes colhidas na região, e pela produção, que chegou a 3,5 toneladas por hectare em Castro.
"O problema é que o girassol disputaria espaço com as culturas de verão e tem preço cerca de 10% menor que o da soja", avalia o pesquisador Rudimar Molin, coordenador de Fitotecnia da instituição. No inverno, o girassol rendeu volume 30% menor. "A viabilidade hoje é uma questão de mercado", conclui.
A adoção do girassol exige precauções extras, acrescenta o coordenador de pesquisa e gerente geral da Fundação ABC, Eltje Jan Loman Filho. Ele considera que a cultura pode favorecer doenças como o mofo branco, provocada pelo fungo Sclero-tinia sclerotiorum, que derruba a produção de grãos como soja e feijão. Em sua avaliação, os produtores só adotarão a cultura quando houver, além de viabilidade econômica, segurança sanitária. Para isso, ainda são necessárias mais pesquisas, defende.
A canola ficou em segundo lugar em relação à viabilidade, não só pela produção, que foi de 2,4 toneladas por hectare, mas pela concentração menor de óleo, 38% em média. A questão de preço ainda não foi avaliada. Em relação à mamona, os técnicos concluíram que a produção em escala depende da mecanização da cultura, mais viável em pequenas propriedades. Hoje o preço da semente de mamona é igual ao da soja e a produtividade, até 60% maior.
Como a curto prazo dificilmente algum produtor vai deixar de produzir soja e milho para plantar girassol durante o verão nos Campos Gerais, os pesquisadores consideram que a cultura tem chance de ganhar espaço mais ao Norte do estado, a partir de Tibagi, Jaguariaíva e Wenceslau Braz. Nesta região, o clima mais quente favorece a produtividade no inverno e reduz o risco de doenças como o mofo branco, afirma Molin. Neste caso, a Canola, que é uma cultura de inverno, ganha competitividade diante do girassol. As áreas de pesquisa da instituição somam 150 hectares e ficam em Arapoti, Castro, Ponta Grossa, Tibagi e Itaberá (SP).
No Instituto de Tecnologia do Pa-raná (Tecpar), em Curitiba, foi inaugurada há dois meses uma planta de biodiesel em es-cala semi-industrial, com capacidade de produção de 500 a 1 mil litros dia. O objetivo é testar diversas matérias-primas, a começar pelo girassol.