Quando se trata de matar ervas daninhas, o defensivo agrícola XtendiMax, da Bayer, tornou-se uma nova e poderosa ferramenta para os agricultores norte-americanos. Mas grupos ambientalistas dizem que as autoridades do país ignoraram os avisos sobre o principal ingrediente do produto, o dicamba, quando autorizaram o seu uso ââem 2016.
Um tribunal de apelação federal em Seattle foi acionado numa tentativa de reverter a aprovação da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos após a destruição não intencional de milhões de acres de plantações não tratadas com XtendiMax e que estavam localizadas nas vizinhanças de áreas que usaram o produto.
A Bayer herdou o XtendiMax quando adquiriu a Monsanto por US$ 66 bilhões em junho, e os produtos à base de dicamba são a peça-chave para a sua estratégia de crescimento no mercado de herbicidas e sementes geneticamente modificadas.
Grupos como o Center for Food Safety alegam que a EPA violou a lei federal ao ignorar evidências em vários estados de que o químico se espalhava facilmente por lavouras não-alvo. Em 2017, entre as fazendas de soja, 3,6 milhões de acres de culturas não resistentes foram destruídas, segundo Kevin Bradley, professor de ciências das plantas na Universidade do Missouri. Depois de receber cerca de 2.700 reclamações no último ano, a EPA pediu à fabricante para colocar mais informações no rótulo do produto, fazer treinamentos de aplicação obrigatórios e registrar os dados de forma mais rigorosa.
“O dicamba se dissemina ao redor de uma maneira intensa que não é relatada”, disse Steve Smith, diretor de agricultura da Red Gold Tomatoes, com sede em Orestes, Indiana, o maior processador privado de tomate. “Quando dirijo pelo campo, posso ver as plantas realmente danificadas”, afirmou. Smith é membro da “Coalizão para Salvar Nossas Lavouras”, que não participou da ação judicial. “Todo mundo tinha treinamento, então ninguém pode dizer que o problema foi de falta de instrução. É o produto”, disparou.
Na audiência de quarta-feira, as entidades ambientais pediram à corte de apelação que invalidasse a aprovação de 2016 da EPA liberando o XtendiMax, tornando as suas vendas ilegais.
Dependência
Muitos fazendeiros americanos - especialmente os que cultivam milho e soja, as duas maiores culturas dos EUA - tornaram-se cada vez mais dependentes de herbicidas e sementes geneticamente modificadas para cultivar produtos resistentes aos químicos. A Monsanto desenvolveu o bem-sucedido herbicida Roundup, nos anos 1970, mas a sua eficiência vem caindo nos últimos anos com o surgimento de pragas que resistem ao seu ingrediente ativo, o glifosato.
Os produtos baseados no dicamba pretendem combater essas novas superpragas, e mais estão por vir. Novas sementes estão sendo projetadas para resistir a cinco ou seis tipos de produtos químicos. O diretor executivo da Bayer, Werner Bauman, em uma conferência com analistas no dia 23 de agosto, descreveu a combinação glifosato-dicamba, chamada de Roundup Ready Xtend Crop System, como “a próxima geração para o controle de ervas daninhas”.
A EPA é o responsável por regular o uso de herbicidas e pesticidas nos EUA, que devem ter registro no órgão. Enquanto as permissões são revisadas ao menos a cada 15 anos, a agência registrou as novas formulação de dicamba por um prazo de dois anos, permitindo que a própria agência altere os registros caso seja necessário.
O problema com o dicamba é que o químico pode evaporar depois de ser aplicado, o que significa que pode se espalhar pelo ar sobre plantações vizinhas. Isso força os produtores ao redor a comprarem esses mesmos produtos químicos para se defender, conforme consta no texto da ação judicial. Kevin Bradley diz que os agricultores não vão ter chance a não ser comprar sementes com a tecnologia Xtend para proteger suas lavouras caso os vizinhos utilizem esses produtos.
“A Bayer quer dobrar a nossa desvantagem para ter mais e mais pesticidas e coquetéis tóxicos”, afirmou George Kimbrell, diretor jurídico do Center for Food Safety. O problema do dicamba de se espalhar não é algo que os produtores consigam lidar com medidas de etiqueta”, observou.
Críticas
Na audiência de quarta-feira, o juiz William A. Fletcher criticou a decisão de 2016 da EPA, que se baseou em apenas dois estudos de campo “reais”. Um na Geórgia e o outro no Texas, nesse último os dados foram retidos, segundo o magistrado. “Os únicos dados que temos é de uma das pesquisas. Isso é suficiente? Não me parece que dá a impressão do perigo que todos sabem que o dicamba trouxe aos campos recém cultivados. Aconteceu, claro, o risco está lá”, afirmou.
Brett Grosko, advogado da EPA, afirmou que os estudos foram “suficientemente dentro dos padrões” e que a corte deveria “permitir que a EPA decida” qual a melhor ciência disponível. A Monsanto registrou documentos informativos apoiando a tomada de decisão da agência, argumentando que os agricultores precisam de novas ferramentas para combater pragas resistentes ao Roundup, que, em 2012, cobriram mais de 60 milhões de acres de terras agrícolas nos Estados Unidos.
“Os herbicidas à base de dicamba têm uma história de 50 anos de uso seguro, quando aplicados de acordo com as instruções, e nós estamos confiantes que a avaliação rigorosa do governo prevalecerá”, disse a companhia em nota enviada por e-mail.
A disputa judicial começou porque a aprovação do dicamba pela EPA expira em 9 de novembro e a Bayer espera renovar a licença antes disso. A companhia informou que o número de fazendeiros que estão adotando as suas novas sementes e herbicidas é recorde.
A soja resistente ao dicamba foi plantada em 42 milhões de acres em 2018, o dobro do total do ano anterior e quase metade do total de 89,6 milhões de acres nos EUA, segundo a empresa. No caso do algodão, foram de 8 milhões dos 13,5 milhões de acres plantados nesta temporada.
“Estamos confiantes, trabalhando junto com a EPA, que uma solução satisfatória para os agricultores será encontrada”, disse o CEO da Bayer, Werner Bauman, durante conferência com investidores.
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