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Brasília – O desafio de levar a agricultura sustentável às áreas tropicais mobiliza dezenas de países, instituições de pesquisa e agentes financeiros internacionais. Eles estão de olho nas últimas grandes áreas disponíveis para o cultivo no mundo – em especial o continente africano –, situadas entre as linhas dos trópicos de Câncer e de Capricórnio. A preocupação é social, com o aumento da população e da conseqüente demanda por alimentos. Mas também econômica, em função do potencial de expansão dessas regiões e a possibilidade da incorporação de novas fronteiras ao processo produtivo mundial.

Há duas semanas, um grupo de 200 técnicos e pesquisadores reuniu-se em Brasília para discutir o desenvolvimento científico, político e institucional da agricultura tropical. Representantes de oito países, liderados pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o Banco Mundial e o Grupo Consultivo em Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR), participaram do primeiro workshop internacional sobre o tema.

O Brasil foi escolhido para sediar o evento pelo pioneirismo no cultivo sobre os trópicos. A partir de pesquisas da Embrapa, nos últimos 30 anos o Cerrado brasileiro passou a responder, em média, por aproximadamente metade da produção agrícola nacional. Essa experiência, baseada numa equação técnica e política, começa agora, a ser levada a outros países.

A atenção aos trópicos não significa que não haja esforço de pesquisa em outras regiões do mundo. "Mas o ponto principal é que deve ser considerado", diz o brasileiro Francisco Reifschneider, diretor do CGIAR, com sede em Washington (EUA) e 15 centros de pesquisa espalhados pelo mundo. Ele faz referência à região do planeta onde está concentrada a pobreza e 70% da população depende, direta ou indiretamente, da agricultura.

A título de mapeamento agrícola, o pesquisador define e divide os trópicos em "grandes blocos" que, de um modo geral, contemplam as savanas – áreas equivalentes ao Cerrado brasileiro; o semi-árido, como o Nordeste do país; e as florestas tropicais, diversidades verificadas na América Latina, África, Austrália e alguns países da Ásia.

Demanda

Reifschneider destaca que, na prática, os países tropicais demandam, basicamente, por informação e tecnologia agropecuária – na área de grãos, carnes e cereais –, avanços já consolidados no Brasil. Ao contrário do Hemisfério Norte que, apesar de deter conhecimento e tecnologia, não oferece novas áreas de cultivo, os países e continentes abaixo do Trópico de Câncer têm a possibilidade de aumentar a produção e a produtividade, embora poucas regiões ainda apresentem disponibilidade de terras, como acontece na África.

Para o presidente da Embrapa, Silvio Crestana, o futuro da agricultura no planeta passa pela África. "É o último continente para exploração agrícola", avalia. Ele alerta que existem outras nações interessadas no desenvolvimento do agronegócio, não só na África como em toda a área tropical.

É o caso da China, que busca novas fronteiras e parcerias para ampliar sua produção e atender ao consumo cada vez mais crescente da população, que já ultrapassa 1,3 bilhão de habitantes. Outros países da Europa e América do Norte, que estão com suas áreas praticamente ocupadas, também acompanham de perto o avanço nos trópicos.

É consenso entre os técnicos, que a incorporação dessa área passa, necessariamente, pela transferência de tecnologia. E que o maior desafio não é o cultivo, mas a implantação de uma atividade de resultados e que leve em conta a interação com a biodiversidade tropical. Nesse aspecto, a pesquisa e o modelo brasileiro aplicado nos cerrados oferecem ao Brasil uma oportunidade única de liderar, a partir dos trópicos, uma nova fase no desenvolvimento da agricultura mundial.

O sucesso da agricultura nos trópicos vai depender, no entanto, da opção de cada país, explica Crestana. "Os mais organizados, que tomarem uma decisão estratégica, como o Brasil há 30 anos, têm a chance de viabilizar o negócio agrícola."

O jornalista viajou a convite da Embrapa.

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