O Brasil passa de 1º para 2º lugar na exportação de soja em grão e de carne bovina – as principais commodities agropecuárias do país – por crescer menos que seus concorrentes diretos em 2015. Os números do mercado global – relatados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA – confirmam que os embarques brasileiros vêm sendo superados pelos norte-americanos, no caso da oleaginosa, e pelos indianos, no caso da carne vermelha.
Na soja, essa perda de posição reflete grave desvantagem logística do agronegócio brasileiro, aponta o analista Flávio França Júnior. Ele avalia que, sem mudanças estruturais, apesar da preferência externa pela qualidade da soja brasileira, “vamos continuar pegando as sobras”. A desvantagem aparece, por exemplo, no tempo de espera de um navio para carregamento, que chega a três semanas no Brasil e se limita a dois ou três dias em portos norte-americanos, cita.
Nos últimos dez anos, os Estados Unidos lideraram a exportação de soja sete vezes e o Brasil três. A soja brasileira estava à frente há dois anos, posição que pode recuperar em 2015/16, prevê o próprio USDA. Isso não deve ocorrer por alteração na logística brasileira, mas pela maior disponibilidade de soja, com estoques elevados e safra volumosa, diz França.
Apesar do recuo no ranking do comércio da soja em grão, que leva em conta volume exportado, a participação brasileira na produção e na exportação, baseada em porcentual do mercado global, tem aumentado. Passou de 28,49% para 31% (produção) e de 32,66% para 40,79% (exportação) desde 2010/11. Isso quer dizer que o país cresce acima da média internacional.
Na carne bovina, crescer acima da média também não garante liderança. Nem o volume da produção impede perda de posição. Com 7,63% da produção mundial, a Índia responde por 23,53% das exportações de carne de gado em 2015. O Brasil produz 16,64% para conseguir exportar 19,66%.
A participação brasileira na produção de carne de gado aumenta lentamente. Passou de 15,59% (2010) para 16,64% (2015). Ou seja, mesmo com a produção crescendo de 9,1 milhões para 9,8 milhões de toneladas, o país avança apenas um ponto porcentual ante a concorrência mundial.
Esse ritmo da pecuária tem limitado as exportações, que passaram de 19,99% para 19,08% (2010 a 2014) e agora devem ficar em 19,66% do comércio global. Ou seja, a oferta brasileira mal acompanha o crescimento da demanda. Nesse mesmo período, a Índia avançou nove pontos porcentuais (12% para 20,81%) e agora quer abocanhar mais 2,72 pontos (para 23,53%) do comércio da carne vermelha. Não que o Brasil seja um caso isolado. Na verdade, a Índia é que se levanta.
O mesmo ritmo não se repete no Brasil por razões que vão além da capacidade do setor produtivo, afirma o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Fernando Sampaio. O Brasil precisa ganhar competitividade com mais infraestrutura e logística e menos burocracia, além de abrir novos mercados, aponta.
Ele relativiza a importância de a Índia ter assumido a liderança nas exportações de carne. “A Índia exporta carne de búfalos, de baixo preço e baixa qualidade, e agora começa a enfrentar problemas por restrições sanitárias para conquistar novos espaços”, compara. “O Brasil tem que evoluir cada vez mais no acesso a mercados mais exigentes e que remuneram melhor pela qualidade, e não se preocupar em competir com a Índia em mercados que pagam menos.”
Outros grandes produtores e exportadores também apresentaram crescimento pequeno. A Austrália, por exemplo, ganha 0,22 ponto na produção global e perde 1,96 na exportação entre 2010 e 2015. Houve recuo determinante nos Estados Unidos, de 1,86 e 2,62 pontos, respectivamente.
Em produção de carne, os EUA ainda são líderes, apesar de terem passado de 12 milhões para 11 milhões de toneladas em cinco anos, com forte redução no rebanho. Isso faz com que a oferta praticamente se iguale à demanda interna. Para exportar um tipo de carne, o país tem que comprar volume equivalente. Mercado que interessa ao Brasil.
Renda bruta da agropecuária tende a cair após cinco anos de crescimento
Com crescimento na produção de soja e carne, mas renda limitada pelos preços internacionais, a receita bruta do agronegócio brasileiro tende a cair em 2015. Isso ocorre depois de cinco anos de crescimento contínuo, aponta o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
O Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária de 2015, calculado com base em dados de abril, será de R$ 456,4 bilhões, valor 0,3% inferior ao de 2014, que foi R$ 457,9 bilhões. A pecuária deve arrecadar 3,5% mais (somando R$ 167,5 bilhões), mas isso não será suficiente para cobrir recuo de 2,4% na agricultura (para R$ 288,9 bilhões).
A expectativa de que a renda volte a aumentar a partir de 2016 está diretamente ligada ao crescimento da produção e da exportação de grãos e carnes. Na soja, as tendência depende basicamente da China, destino de mais de dois terços das exportações do grão. No caso da carne bovina, o mercado interno (para onde são destinados 80% da produção) tem esse papel decisivo.
A força do consumo interno de 38 quilos por habitante ao ano têm definido o resultado econômico da produção de carne vermelha. O mercado brasileiro representa 13,9% do global. Em relação aos 20% exportados, a pecuária reflete a situação econômica de Rússia, Venezuela e países do Oriente Médio. Neste ano, setor busca clientes como Estados Unidos, Japão e China para complementar sua renda.
3,33 milhõesde toneladas de soja em grão a mais foram exportados em 2014/15 pelos Estados Unidos (41,69) na comparação com o resultado do Brasil (38,85). Na temporada 2015/16, Brasil tende a recuperar posição com placar de 40,79 a 39,60.
400 miltoneladas é a vantagem da Índia sobre o Brasil na exportação de carne de gado em 2015. Ultrapassagem chegou a ser prevista já para 2012. Agora, Brasil quer recuperar posição dobranco exportação em cinco anos.