Os moinhos brasileiros não podem importar trigo in natura da Argentina desde 8 de março. Uma semana depois da proibição, justificada como uma tentativa de garantir abastecimento interno, o governo de Néstor Kirchner liberou a venda de farinha. Foi o que bastou para que a indústria brasileira interpretasse as medidas como uma tentativa de desmontar a concorrência. "Se a Argentina não tem trigo, por que exporta farinha?", questiona o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), Samuel Hosken.
O Brasil tem capacidade para moer 14 milhões de toneladas de trigo ao ano. Cerca de 29% dessa capacidade é ociosa. Com as medidas argentinas, esse porcentual tende a subir, transformando os moinhos em importadores de farinha. Nem a crise energética das últimas semanas teria reduzido as exportações do produto industrializado para o Brasil.
A interrupção das vendas de trigo in natura travou parcialmente os negócios, mas não deve diminuir a importância da Argentina como fornecedor do produto. A estimativa da Abitrigo é que mais de 50% das 10 milhões de toneladas que o país está consumindo neste ano venham do país vizinho.
Os contratos firmados antes da suspensão das exportações foram honrados pela Argentina, segundo a Abitrigo. A associação calcula que o Brasil já importou cerca de 3,8 milhões de toneladas de trigo. Os moinhos esperam que os negócios sejam liberados a partir de setembro, quando os argentinos iniciam a colheita. Eles devem colher 13,5 milhões de toneladas de trigo, com sobra de 8,5 milhões de toneladas, o que os obriga a contar com o consumo brasileiro.
Será necessário comprar mais 2,7 milhões de toneladas de trigo argentino para suprir o consumo brasileiro. Para que não ocorra falta do produto no mercado interno até setembro, os moinhos negociarão 1,2 milhão de toneladas com fornecedores de fora do Mercosul, como Canadá e Estados Unidos. Isso porque a produção nacional foi de apenas 2,3 milhões de toneladas e não há estoques suficientes. Os moinhos engatilham negócios para funcionar normalmente até fevereiro de 2008.
O trigo trazido de longe custa pelo menos 10% a mais para os moinhos, que prevêem aumento em todos o produtos derivados. Os reajustes já elevam o preço de alimentos como macarrão e biscoito. As panificadoras teriam absorvido os primeiros reajustes, mas vão passar a cobrar mais pelo pão nas próximas semanas, avalia Hosken.
Os preços pagos pelos moinhos não param de subir. O trigo brasileiro, que chegou ao pico de R$ 530 a tonelada nas últimas semanas, está mais caro que o argentino e mais barato que o da América do Norte. O valor equivale a US$ 294 por tonelada, mas poucos produtores têm o que vender. No Paraná, o trigo argentino é vendido a US$ 220 a tonelada e o norte-americano custa mais de US$ 300.
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