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Seis anos atrás, João de Almeida Nabarro, pequeno agricultor de Pitangueiras (Norte do estado), estava decidido a engrossar os números do êxodo rural. Venderia os 3,63 hectares por R$ 13 mil – valor que lhe ofereciam – e mudaria, com a mulher e os três filhos pequenos, para Curitiba, mesmo sem qualquer intimidade com as profissões urbanas. A permanência no campo era difícil: as lavouras de tomate e algodão só davam prejuízo.

Naquele mesmo ano, em outro pedaço do Paraná – Carlópolis, no Norte Pioneiro – João Nunes da Rosa já fazia o caminho de volta. Desempregado, depois de dez trabalhando como metalúrgico e motorista em São Paulo, resolveu deixar a maior cidade da América do Sul e voltar à terra natal, da qual fôra forçado a migrar após anos de safras frustradas de milho, arroz e feijão.

O ponto em comum na história desses dois paranaenses é o café. Cultura que já simbolizou a pujança agrícola do Paraná, o café reconquista aos poucos sua importância na economia do estado. Líder nacional disparado até a geada negra de 1975, o Paraná é atualmente o quarto estado em produção e o quinto em área plantada.

Mas, além da crescente participação na composição da riqueza, essa lavoura desempenha um relevante papel social. Como poucas culturas, absorve grande quantidade de mão-de-obra e é rentável em áreas pequenas, o que o torna uma das alternativas mais acertadas para o pequeno produtor rural. Das propriedades cafeeiras do estado, 83% são pequenas (com menos de 50 hectares), e 64% são exploradas pela agricultura familiar, aquela em que os próprios membros da família respondem pela gestão e a mão-de-obra.

Nabarro e Rosa são exemplos de sucesso familiar com o café. Acertadamente, Nabarro ouviu os conselhos do extensionista do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Abandonou a ilusão da cidade grande. Com a ajuda do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), plantou 2,5 mil pés de café, construiu um viveiro para 11 mil frangos e outro capaz de abrigar 33 mil larvas de bicho-da-seda.

Hoje, o sítio de Nabarro é modelo de diversificação produtiva, emprego de mão-de-obra familiar e respeito ao meio ambiente. Numa área equivalente a pouco mais de quatro campos de futebol, trabalham o agricultor, hoje com 45 anos, sua mulher, Benedita, 46, e os três filhos do casal: Viviane, 24, João Paulo, 22, e Franciane, 19.

A renda anual do sítio chega a R$ 25 mil, equivalente à de uma propriedade de quase 50 hectares cultivada com grãos. Mesmo com tanta produção, encontrou-se espaço para a recomposição da mata ciliar do rio nos fundos do sítio e também para a reserva legal de 20% – obrigatória por lei, mas uma prática ainda pouco adotada, principalmente nas grandes fazendas. Hoje, Nabarro recusa propostas para vender o sítio por até R$ 150 mil. Ele não pensa mais em ir embora. Pelo contrário: seu projeto agora é comprar um trator.

Ao voltar de São Paulo, em 2000, João Nunes da Rosa trouxe a mulher, três dos quatro filhos e algum dinheiro, com o qual agregou três hectares à área de nove hectares que deixara em Carlópolis. Em quatro hectares, plantou café. Está na terceira safra, com produtividade crescente. Com a ajuda dos dois filhos e trocando dias de trabalho com vizinhos, investe na qualidade, com a colheita seletiva – na qual se retira dos galhos apenas os frutos maduros a cada passagem pela lavoura.

A família Gabriel, também de Carlópolis, é outro exemplo da força do café na conservação dos agricultores no campo. Numa área de 60 hectares, vivem 15 pessoas: o patriarca, José Roberto Gabriel, 47 anos, sua mulher, quatro filhos –três dos quais casados – e seis netos. As quatro casas cercam o terreiro de 1,2 mil metros quadrados usado para a secagem do café. Com secador, armazém e produção própria de mudas, os Gabriel conseguirão, neste ano, uma receita próxima dos R$ 200 mil.

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