Depois de três anos de colheita em queda, o café brasileiro entra em 2016 com força para derrubar preços. A previsão de safra perto de 15% maior que a de 2015 faz com que o maior exportador da commodity exerça sua influência reduzindo cotações globais. Uma promessa de café mais barato em todo o mundo.
As previsões sobre as cotações são de baixa, mas têm divergências. Como os estoques também estão em queda (de 42,5 milhões para 36,7 milhões de sacas de 60 quilos, conforme projeção do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA), pode haver reação de preços no segundo semestre.
No entanto, o que tem prevalecido é a queda nas cotações, que passou de 20% em 2015 em Nova York (arábica, -24%) e Londres (robusta, -21%). Os analistas explicam que, além de produções maiores, que elevam temporariamente a oferta, as regiões de cultivo registram enfraquecimento de suas moedas, o que contribui para reduzir o valor do grão em dólar.
O fato de um dólar valer R$ 4 faz com que o café brasileiro fique mais barato no exterior. E nem toda a desvalorização da moeda se converte em ganho aos produtores. Como o país vende três de cada dez sacas de café comercializadas internacionalmente, o que acontece aqui faz o preço do café lá fora.
A saca de 60 quilos de arábica valia US$ 170 na primeira semana de 2015. Mas começou 2016 próxima de US$ 125 (-26,5%). Em real, a variação foi de R$ 470 para R$ 500 (+6,5%) – alta que segundo os produtores não cobre elevação nos custos. Os números são dos indicadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) ligado à Universidade de São Paulo (USP).
Os preços em dólar caíram a ponto de reduzir a receita das exportações brasileiras em dezembro. O país exportou 2,2% a menos do que em dezembro de 2014. Já a queda na arrecadação foi de 26,2%, para US$ 450 milhões, conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Safra maior
Agora em 2016 o Brasil deve colher entre 47 milhões e 49 milhões de sacas, conforme o Conselho Nacional do Café (CNC). Essa margem é larga, mas na pior das hipóteses representa crescimento substancial. Será confirmada pela colheita, que se concentra entre abril e agosto.
O incremento deve acontecer basicamente no café arábica – especialidade de Minas Gerais – da casa de 31 milhões (2015) para a de 37 milhões de sacas (2016). O café conilon tende a continuar próximo de 11 milhões de sacas de 60 quilos, mostram as projeções do CNC.
Se os preços caírem mais, devem afetar a renda de cerca de um terço da produção. Os analistas consideram que sete em cada dez sacas previstas já foram comercializadas.
Abaixo dos recordes
As 47-49 milhões de sacas, no entanto, não são inéditas. O Brasil teve safra em volume similar em 2002 e 2010. E passou de 50 milhões de sacas em 2012, mostram estatísticas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Porém, o volume representa uma reviravolta, porque houve queda na produção em 2013, 2014 e 2015.
A Conab registra queda de 5,3% na produção entre 2014 e 2015, de 45,64 milhões para 43,24 milhões de sacas de 60 quilos. Responsável por metade da produção brasileira, Minas Gerais teve baixa de 22,94 milhões para 22,3 milhões de sacas (-2,8%), aponta os especialistas da estatal. Os cafezais do Triângulo e do Noroeste de Minas enfrentaram falta de chuva.