• Carregando...
Oferta global limitada tem sustentado preços do café. | Brunno Covello / Gazeta Do Povo
Oferta global limitada tem sustentado preços do café.| Foto: Brunno Covello / Gazeta Do Povo

No momento em que os principais grãos exportados pelo Brasil enfrentam retração de preços e perdem fôlego na balança comercial, o café vive um ciclo oposto. Principal fornecedor mundial do produto, o país acumula duas safras consecutivas de queda na produção, em meio a um cenário de redução na oferta global. O quadro tem dado sustentação às cotações, favorecendo um ganho nas receitas internacionais, que estão 15,1% maiores nos cinco primeiros meses de 2015.

Dados da Organização Internacional do Café (OIC) indicam que houve queda de 3,3% na produção mundial em 2014/15, para 141,8 milhões de sacas (60 quilos). A entidade estima que o ano terminará com um déficit de pelo menos 8 milhões de sacas . É esse quadro de oferta justa que tem dado sustentação aos preços, aponta o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz. “Além disso, há um aumento no embarque de cafés diferenciados, que têm preços 25% acima da cotação na Bolsa de Nova York. Esse filão já representa 20% do volume total exportado”, acrescenta.

Líder na produção e exportação mundial do grão, o Brasil enfrentou problemas na última safra que contribuíram para a alta internacional, aponta o professor da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Luiz Gonzaga Castro Júnior. O principal problema ocorreu nas lavouras da região da Zona de Mata e no Sul de Minas Gerais, que foram afetadas pela combinação de tempo seco e altas temperaturas. “O preço só não subiu mais porque os Estados Unidos reduziram a importação no mesmo período”, indica.

O quadro favoreceu os embarques brasileiros. O produto desponta como um dos poucos itens da pauta agroexportadora do país em alta neste ano. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), indicam que entre janeiro e maio deste ano o faturamento com exportações foi de US$ 2,7 bilhões, ou 15,1% mais do que no mesmo período de 2014. O volume embarcado saltou 2%, para 847 mil toneladas, e os preços médios estão 12,8% maiores, com média de US$ 3,2 mil por tonelada.

Para Herszkowicz, o quadro ainda está indefinido para o resto do ano. “Há incertezas para o segundo semestre. Não deve faltar café, o que evita uma disparada nos preços. Mas isso também significa que não haverá pressão de baixa nos preços”, aponta. A OIC ainda não traça projeções globais, enquanto a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) espera que a colheita no Brasil caia 2,3%, para 44,3 milhões de sacas em 2015/16. Afetado por uma geada negra dois anos atrás e estiagem em 2014, o Paraná deve seguir na contratendência e colher uma safra 106% maior nesta temporada, de até 1,1 milhão de sacas.

Cápsulas renovam demanda e dão novo impulso à produçãoA popularização do consumo de café em cápsulas está reconfigurando a demanda mundial pelo produto. Embora o modelo permita um aumento no preço médio de venda, a adoção de doses individuais tem reduzido a média total de consumo. A questão pautou boa parte dos debates do painel de mercado do 9º Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil, realizado na semana passada em Curitiba.

O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, diz que o café em cápsulas chega a render preços “vinte vezes maiores do que o grão torrado e moído”. Ele estima que as indústrias devem investir neste nicho R$ 400 milhões até o final de 2016. “A cápsula exige um café de alta qualidade, senão o gosto fica ruim. Isso é bom para produtor e indústria, pois agrega valor à toda a cadeia.”

Para o professor da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Luiz Gonzaga Castro Júnior, o modelo pode ajudar a agregar valor ao produto exportado. Ele aponta que há forte aumento no consumo de cápsulas na China, Índia, Itália, Alemanha e Estados Unidos. “A conveniência e praticidade estão movendo o consumo hoje. A cápsula pode ser uma opção para o mercado brasileiro [faturar mais]”, diz.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]