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Agricultura

Campo se mobiliza contra assaltos

Ângelo Miquelão Filho gastou R$ 4 mil em sistema de monitoramento | Roberto Custa³dio/jornal De Londrina
Ângelo Miquelão Filho gastou R$ 4 mil em sistema de monitoramento (Foto: Roberto Custa³dio/jornal De Londrina)

Foi-se o tempo em que a tranquilidade do campo blindava a atividade rural contra assaltos. No Norte do estado, a onda de violência fora da zona urbana leva produtores a se articularem e a pedirem reforço no policiamento. Eles vivem em Apucarana, primeiro município do Paraná a contar com um Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) Rural.

A cidade também sediou recentemente o lançamento de uma cartilha da Polícia Militar com dicas para prevenir ocorrências como roubos e furtos neste tipo de ambiente. O material desenvolvido pela PM aborda a arquitetura da segurança e reforça o trabalho iniciado pelos produtores rurais.

Dados levantados pelo Conseg Rural de Apucarana apontam que, de janeiro de 2010 a 2013, foram contabilizados problemas em 38 propriedades rurais. Ao todo, houve 91 ocorrências – contando casos como o de uma propriedade que sofreu com a ação dos bandidos nove vezes no período.

“Dividimos as informações que conseguimos com as polícias Militar e Civil, que desbarataram uma quadrilha. Com o diagnóstico pronto, estudamos o que poderíamos fazer”, relata o coordenador da entidade, Renato Franciscon.

A ideia, explica ele, era investir em prevenção, para não ficar dependente apenas do que a Patrulha Rural Comunitária da PM poderia fazer nos mais de 600 quilômetros de estradas rurais de Apucarana. Foram feitas palestras com orientações sobre como evitar outras ocorrências.

Entre as alternativas, estão providências como cercar toda a propriedade, colocar cadeados nas porteiras, iluminar as áreas de acesso e manter cães próximos à sede. “Setenta por cento dos assaltos aconteciam entre as seis da tarde e as seis da manhã. O pessoal foi se adequando aos poucos, estava muito vulnerável”, pontua Franciscon. Ele avalia que os trabalhos estão dando resultado. São 10 meses sem problemas em cerca de mil propriedades do município, relata.

Investimento

Produtor de soja, Ângelo Miquelão Filho foi um dos que colocaram a mão no bolso para ter mais segurança. Ele investiu R$ 4 mil em um sistema de câmeras de monitoramento e em refletores para a propriedade da família.

O produtor estuda novas intervenções para o ano que vem. “Isso não evita, mas ajuda a afugentar o ladrão”, define ele, que tem saudades da época em que as preocupações do homem do campo eram outras.

Miquelão calcula que, se tivesse investido o valor dos equipamentos em insumos e serviço, teria R$ 12 mil a mais na conta bancária. “Minha família chegou aqui em 1937, sempre foi tranquilo. Mas agora, se deixar, os bandidos levam tudo, desde maquinário a animais.”

Um produtor que não quis se identificar relata que também gastou com iluminação no entorno de sua casa. Ainda assim, a propriedade voltou a ser assaltada. Com medo de represálias, argumenta que falta estrutura para que a PM assista a zona rural. “Se a acionamos, demoram para chegar. A área que eles têm para cobrir é muito grande”, diz.

Monitoramento coletivo promete resultado

A preocupação com a segurança no campo tem surtido efeito quando há articulação coletiva, mostra experiência da região de Guarapuava, no Centro-Sul do estado. Os produtores encabeçam um programa de monitoramento rural.

A iniciativa é de 2005 e chegou a abranger 1,2 mil propriedades, relata o presidente do Sindicato Rural de Guarapuava, Rodholfo Luiz Werneck Botelho. “Estávamos tendo vários problemas, como latrocínios, roubo de gado, invasão de propriedades. Havia uma defasagem no atendimento no meio rural. Muitas vezes, faltava policial para atender a cidade, quanto mais o campo”, relata.

Levantada inicialmente pelo sindicato, a bandeira do monitoramento preventivo logo teve adesão dos produtores. Programas semelhantes foram estudados, além da extensão a ser monitorada e como os agentes deveriam atuar. Os custos foram rateados entre as propriedades atendidas.

Hoje, o número de propriedades abrangidas caiu para pouco mais de 100, mas as ocorrências de crimes também diminuíram. “Tivemos redução nos furtos, assaltos e entrada de caçadores e pescadores nas propriedades. Os ladrões levavam produtos químicos, fertilizantes, máquinas, abatiam animais, mas o monitoramento desencorajou as quadrilhas”, pontua Botelho.

Na região Norte do Paraná, entidades sindicais também estudam a criação de conselhos comunitários de segurança rural, aos moldes do instituído em Apucarana. Em Marilândia do Sul, o presidente do Sindicato Rural, José Leite dos Reis, diz que o assunto vem sendo debatido com produtores. “Seria um reforço. Se conseguirmos formar um conselho, teremos mais condições de reivindicar mais efetivo policial para a região”, argumenta.

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