As altas nas cotações da soja e do milho no mercado internacional está pressionando a rentabilidade da cadeia de carnes no Brasil. A valorização das duas commodities – principais matérias-primas da indústria de ração animal – tem aumentado os custos de criação e levado o setor produtivo a refazer planos diante da nova conjuntura. No Paraná, a saca de 60 quilos de milho subiu 43% de abril de 2010 para o mesmo mês deste ano, saindo de R$ 13,68 para R$ 23,67, mostra levantamento da Secretaria Estadual da Agricultura (Seab). O farelo de soja, por sua vez, teve alta de 40% no mesmo período passando de R$ 0,35 para R$ 0,59 por quilo.

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O estreitamento dos lucros, que varia conforme o peso da ração na "cesta básica animal" de cada cadeia, é sentido mais fortemente pelos suinocultores. A alimentação representa atualmente 80% na composição dos custos atuais, aponta a Asso­ciação Brasileira da Indús­tria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). His­toricamente, essa relação era de 65%. Sustentada no aumento mundial do consumo de grãos e também de carnes, "a tendência é que os preços se mantenham em patamares mais altos do que no ano passado", estima Jurandi Soares Machado, diretor de mercado interno da entidade.

Com um custo atual 15% maior do que em 2010, os produtores de suínos do Paraná estão entre os mais afetados pela alta da soja e do milho. A APS, associação que representa o setor no estado, sustenta que hoje o preço pago ao produtor (R$ 2,10 o quilo) está abaixo do custo, estimado em R$ 2,40 por quilo. No ano passado, o gasto era de R$ 2,10 e o preço de venda era de R$ 2,50 por quilo. "Estamos perdendo entre R$ 30 e R$ 40 por animal", reclama Carlos Francisco Geesdorf, presidente da entidade. Ele considera que 2011 deve ser um dos piores anos para a rentabilidade dos suinocultores. O fechamento dos mercados russo e argentino – dois dos três maiores consumidores – para a carne brasileira contribuem para o aumento da oferta interna do produto e pressiona os preços. No primeiro quadrimestre deste ano, o Brasil embarcou volume 4,3% menor do que no mesmo período de 2010, aponta a Abipecs. Nesse período, foram enviadas 169,1 mil toneladas de carne suína ao exterior, contra 176,7 mil em 2010. Rússia e Argentina absorveram 48% desse volume.

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Avicultura

Favorecida por um mercado externo mais aberto, consumo per capita maior e flexibilidade de produção com ciclo produtivo curto, a avicultura é a segunda cadeia que mais perde com a alta da soja e do milho. O presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra, avalia que, com o preço de R$ 1,70 oferecido ao avicultor pelo quilo do frango vivo, "a equação está complicada". O valor não cobre os custos de produção, estimados pelo executivo em R$ 1,85/kg. De acordo com Turra, a ração representa cerca de 65% do custo de produção da avicultura, indice que, apesar da alta dos grãos, permanece dentro da média histórica.

"O custo dos insumos subiu no mundo todo, pois as commodities estão mais caras. Mas no Brasil o aperto nas margens é potencializado pelo câmbio desfavorável", explica Turra. Nos últimos 12 meses, a cotação do dólar passou de R$ 1,75 para R$ 1,60. Segundo ele, o dólar em queda reduz a competitividade do setor no exterior e faz com que o Brasil perca espaço no mercado internacional. "As exportações norte-americanas de carne de frango, que vinham caindo nos últimos quatro anos, aumentaram 3% no primeiro trimestre de 2011", cita.

As vendas externas do Brasil também subiram, mas em ritmo menor que o esperado, afirma Turra. "O setor havia se preparado para uma demanda muito grande, que não se concretizou". Levantamento da Ubabef mostra que, entre janeiro e abril, as exportações brasileiras cresceram 8,6% em volume e 28% em receita. "A demanda mundial é forte, mas não existe mais espaço para o preço subir em dólar", diz. O esmagamento das margens já teria levado algumas empresas a reduzir o alojamento de aves, num movimento ainda pontual, informa Turra. Mas "se o cenário negativo permanecer, o ajuste tende a ocorrer de maneira natural".

Colaborou Luana Gomes

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Preço do boi dilui custo maior

Depois de ver o preço da arroba (15 quilos) alcançar valor histórico em novembro passado, o criador de boi sentiu menos o impacto provocado pela alta da soja e do milho no mercado internacional. De acordo com Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria, os custos de produção da pecuária extensiva foram impulsionados principalmente pela alta dos fertilizantes. "O que pesa mais é o suplemento mineral, utilizado nas pastagens. Grãos e farelo ficam para a base da dieta do confinamento." Segundo ele, o custo de uma arroba de boi gordo está em R$ 95. Na comparação com maio do ano passado, a alta é de 25%.

Já o custo da pecuária de leite subiu 17% neste ano. Puxado pelos grãos, o gasto para produzir um litro de leite varia atualmente entre R$ 0,40 e R$ 0,70 centavos, aponta o consultor paulista.

Apuração realizada pelo Laboratório de Pesquisa em Bovinocultura (Lapbov) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) mostra que o valor da arroba do boi gordo subiu 18% no estado desde maio do ano passado, saltando de R$ 82 para cerca de R$ 100 atualmente. Enquanto isso, o quilo da ração se manteve praticamente estável em R$ 0,78 centavos.

Para Ribeiro, os preços do boi dificilmente retornarão para baixo de R$ 80 no curto prazo. "Teremos sustentação em torno dos R$ 100 a arroba." Ele acredita que as perspectivas são positivas por conta da falta de boi no pasto. Segundo o consultor, entre 2004 e 2006 houve um abate de fêmeas que prejudica até hoje o quadro de oferta. Além disso, ele lembra que há um esperado movimento de aumento da demanda por carnes.

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Quarto maior consumidor de carnes no mundo, o Brasil espera manter os números de exportação de bovinos em 2011, diferentemente do que prevê o setor de aves e suínos. Ano passado, o país enviou 1,81 milhão de toneladas de carcaças de boi para o exterior.