O mercado da soja voltou nesta semana aos patamares que dispararam as vendas no Brasil em pleno plantio no segundo semestre do ano passado. Em sua melhor fase em cinco meses, a oleaginosa passou dos US$ 13 por bushel (27,2 kg) na Bolsa de Chicago nos últimos dois dias. O preço ao produtor do Paraná ultrapassou R$ 45 por saca (60 kg). As altas acumuladas em relação às médias de janeiro chegaram a 4% e 7% na CBOT e no mercado doméstico, respectivamente, trazendo alívio aos agricultores que enfrentaram seca e estão confirmando quebra na colheita.
Os grãos que ainda não foram vendidos estão valendo um pouco mais do que se esperava. O motivo da alta global é justamente a quebra climática registrada na América do Sul. Por que os reajustes ocorreram só agora? Porque a China, nos últimos dias, bateu à porta Estados Unidos, explica o analista Flávio França Jr., da Safras & Mercado. "Não se trata da confirmação dos efeitos da seca nas lavouras, mas da transformação da quebra em aumento na demanda nos Estados Unidos." Até a última semana, esse aumento estava na teoria, observa.
A elevação de preço tende a ser momentânea, a julgar pelas cotações futuras, que estão abaixo das atuais na CBOT. As apostas são de que a produção dos EUA em 2012/13 vai aumentar. A previsão do próprio departamento de agricultura dos Estados Unidos, o USDA, é de baixa de 1,7% no valor da soja em relação aos preços desta safra. Se isso ocorrer, o bushel deve seguir a linha de US$ 11,5.
"O mercado não está comprando mais a alta e busca os US$ 13,4 por bushel. Diante dessa resistência técnica, os preços perdem sustentação", afirma o analista Stefan Tomkiw, brasileiro que atua nos Estados Unidos pela Jefferies Bache. Ele afirma ainda que os chineses dão sinais de que vão reduzir o ritmo das compras.
No ano passado, a soja americana perdeu participação nas vendas à China de 24,2 milhões de toneladas (2010) para 20,6 milhões (2011). O Brasil, por sua vez, vendeu 1 milhão de toneladas do grão a mais para os chineses, chegando a 22,1 milhões. "Agora os EUA devem recuperar mercado", afirma França Jr.
Os reajustes não devem cobrir os prejuízos de produtores que tiveram perdas de até 70%, mas ajudam, avalia a agrônoma do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral) Margorete Demarchi. As cotações no Brasil ainda assimilam efeitos diretos da estiagem, aponta. Dessa forma, a cotação de R$ 45 por saca é considerada sustentável.
A previsão dos especialistas é que os produtores brasileiros vão acelerar as vendas nos próximos dias. No Paraná, o volume vendido antecipadamente deu um salto na fase de plantio. Levantamentos públicos e privados divergem, mas apontam proporções recordes entre 26% e 38%. Em dezembro, a comercialização perdeu ritmo, que deve ser recobrado agora.