A Argentina passa a prever queda de até 700 mil toneladas na produção de trigo -- equivalente a sete navios carregados -- depois das tempestades recordes que atingiram o cinturão de grãos no início do mês. Principal fornecedor do cereal ao Brasil, o país vizinho prevê redução de sua oferta e deve faturar menos com a exportação, num ano em que o mercado global mostra-se saturado por safras abundantes na Europa Ocidental e na região do Mar Negro.6% do trigoda Argentina teriam sido consumidos pelo excesso de chuva dos últimos 20 dias, conforme entidade que representa grandes produtores, a Sociedade Rural. A região mais atingida planta cerca de 300 mil hectares, de acordo com a Bolsa de Cereales. A colheita vinha sendo estimada pelo mercado em 11 milhões de toneladas, ante 12,5 milhões registrados no ano passado.
Grandes produtores, representados pela Sociedade Rural, estimam perda de 6% no trigo que acaba de ser plantado, após redução no cultivo diante de restrições internas à exportação. A Bolsa de Cereales, no entanto, diz que a região mais afetada -- que inclui o Sul do principal núcleo de produção -- tem ao todo cerca de 300 mil hectares, ou 8% da área plantada.
Um levantamento na região da província de Buenos Aires mostra que há 260 mil hectares irrecuperáveis. O dado foi divulgado pela imprensa portenha. Esse dado está em linha com o índice de 6% e aponta para perda de 750 mil toneladas.
Muitos produtores simplesmente não conseguem entrar nas lavouras alagadas para avaliar os danos. Os técnicos da Bolsa de Cereales consideram que nos casos mais graves, o trigo pode não se recuperar e que a redução no volume da safra virá por queda no registro da área plantada, ou seja, lotes com perda total.
A Argentina plantou 3,7 milhões de hectares de trigo. Um ano atrás, tinham sido 4,4 milhões. Ou seja, a redução de 700 mil hectares (15%) pode ser ainda maior.3 milhões de tde trigo foram importados pelo Brasil no primeiro semestre. E 2,5 milhões de t vieram da Argentina, principal fornecedor do cereal do pão. Quando falta trigo na vizinhança, Brasil tem de recorrer aos Estados Unidos e ao Canadá.
No Brasil, a colheita está começando e os estados produtores (Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina), que disputam o mercado interno no Sul, torcem por mais espaço na competição com o trigo argentino nas demais regiões brasileiras. A produção nacional deve chegar perto de 7 milhões de toneladas, mas o consumo passa de 11 milhões. Mesmo com necessidade de importar cerca de 5 milhões de toneladas ao ano, o país vive sobreoferta no Sul.
Existe risco de mais chuvas na Argentina (e no Brasil, o que pode atingir em cheio a qualidade dos grãos). “Nós já tivemos chuvas para um ano e ainda estamos nos encaminhando para a primavera, que supostamente é a estação mais úmida”, disse o triticultor argentino David Hughes. Ernesto Ambrosetti, analista da Sociedade Rural, disse que chuvas recordes de 300 milímetros atingiram os pampas ao longo dos últimos dez dias.
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