Em 1950, a população urbana brasileira era de apenas 32%. Hoje, 67 anos depois, 85% dos brasileiros vivem nas cidades. A mudança impacta diretamente a agricultura já que, sem controle, pode oferecer riscos de transmissão de pragas e doenças para o campo, como mostra o estudo Identificação, mapeamento e quantificação das áreas urbanas do Brasil.
Elaborado por profissionais da Embrapa Gestão Territorial, a análise levou três anos para ser concluída e foi realizada a partir da observação de centenas de imagens de satélite. Além de avaliar a densidade populacional, os pesquisadores observaram algumas necessidades, relacionando a proximidade das áreas urbanas das rurais.
“Muitas vezes as pragas entram em território nacional sem serem identificadas na fronteira [do país], onde temos postos de fiscalização. Muitas cargas passam pela amostragem e, quando entram, [as pragas] são identificadas no descarregamento, já na cidade. É por isso que existem pragas que se disseminam nas áreas urbanas, em árvores frutíferas”, diz o geógrafo André Rodrigo Farias, analista da Embrapa e autor do trabalho.
Neste sentido, um dos desafios foi definir conceitualmente áreas urbanas e rurais. O IBGE utiliza a delimitação legal que cada município determina, sem considerar interferências urbanas. No estudo da Embrapa, “o objetivo era mapear as áreas urbanas da forma mais exata possível por meio de imagens de satélite de alta resolução, reconhecendo, para isso, concentrações visíveis de edificações e loteamentos”, esclarece o geógrafo.
Pragas próximas
Esse crescimento de cidades, que ficam cada vez mais próximas das lavouras e pomares, acaba sendo uma ameaça, como explica o pesquisador da Embrapa Luiz Alexandre Nogueira de Sá, engenheiro agrônomo e doutor em entomologia (área de estudo de insetos):
“Quando condomínios fechados são construídos em matas auxiliares, espaços verdes, ou quando abre-se espaço, aquela fauna vegetal e animal é empurrada. Há um deslocamento de insetos e outros vão ocupar esses espaços”.
Segundo o especialista, é preciso estratégias para combater esses problemas. Uma delas, diz Nogueira de Sá, parece absurda, mas vem tendo bons resultados pela avaliação da Embrapa: plantas ornamentais são cultivadas em jardins nos meios urbanos, por exemplo, servindo como hospedeiras para algumas pragas.
“É uma estratégia indireta para controlar os arredores dos pomares, que tem muitas aplicações químicas. Assim fazemos o controle biológico com plantas ornamentais”, exemplifica o agrônomo citando um caso realizado para controlar que pragas ataquem plantações de cítricos.
Dessa forma, a praga não ataca as plantações de citrus porque o ‘inimigo natural’ procura seu alvo na própria cidade. “São insetos urbanos que vão viver em plantas ornamentais”, comenta. Ou seja, uma possível praga, tendo seu alimento no meio urbano, não vai buscar comida ‘na roça’.
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