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A colheita da primeira safra brasileira de feijão começou neste mês no Sudoeste de São Paulo e no Norte do Paraná sob perspectivas pouco animadoras. Os grãos que saem do campo encontram um mercado superofertado e são negociados a preços abaixo do mínimo de garantia do governo, de R$ 80. Nas principais praças de comercialização do estado, o produtor recebe pela saca da leguminosa pouco mais de R$ 60, valor que mal cobre os custos de produção, estimados pela Seab, a Secretaria da Agricultura paranaense, em R$ 63,50.

Depois de colher uma safra cheia na temporada anterior, o Brasil inicia o ciclo 2009/10 com os maiores estoques de passagem dos últimos 20 anos e uma série de desafios a serem vencidos. "Colhemos uma safra razoavelmente grande no ano passado, mas com qualidade não tão boa quanto o mercado gostaria. Isso derrubou as cotações na entressafra e, agora, mesmo com produção nova entrando no mercado, não vejo perspectiva de melhora nos preços pelo menos até o final do ano", considera a analista da Unifeijão Sandra Heitzel.

Maior produtor nacional de feijão, responsável por quase um terço da produção brasileira na primeira safra, o Paraná pode ser um dos estados mais prejudicados caso a previsão de Sandra se confirme. "A situação aqui está mais complicada do que a Seab tem percebido. Primeiro, a chuva atrasou o plantio e, depois, o sol forte prejudicou o desenvolvimento das plantas", relata o analista da Correpar Marcelo Eduardo Lüders, que também é presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Legumes Secos (Ibrafe). Na sua avaliação, a redução na área de cultivo pode ser ainda maior que a estimada pela secretaria, que projeta queda de 11% no plantio.

Para Sandra, mesmo que a safra das águas continue enfrentando problemas climáticos será difícil enxugar o excesso de oferta e os preços tendem a permanecer pressionados. "O mercado pode continuar ruim mesmo que o clima prejudique a qualidade da safra 2009/10. Preços melhores, apenas se houver uma quebra razoável no volume colhido e, ainda assim, não acredito que possamos ver cotações de três dígitos este ano", prevê.

"Achar mercado hoje em dia tem sido um desafio tão grande quanto produzir. Teve uma época, não muito tempo atrás, em que o produtor achava ruim preços entre R$ 65 e R$ 70. Agora, ele acha ruim não conseguir vender", diz Lüders. Ele afirma que os produtores já estão aceitando vender seu feijão por R$ 60 a R$ 55, e mesmo assim está difícil encontrar comprador.

Ele conta que, para tentar contornar o problema e garantir a rentabilidade da safra, alguns agricultores estão procurando novos nichos de mercado e diversificando a produção. "O produtor está ávido por novas opções. E uma dessas opções é o feijão rajado. Algumas empresas oferecem inclusive contratos de preço pre-fixado", revela.

Segundo Lüders, o feijão rajado já responde por 3% do consumo nacional e tem mercado mundial, diferente do carioca, que é um produto mais regional. "Investindo em variedades que têm mercado lá fora, o governo poderia estimular a exportação lançando contratos de PEP (Prêmio de Escoamento de Produto). Isso tiraria do mercado a pressão dos estoques públicos", avalia o analista.

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