Item considerado um pré-requisito para garantir a comercialização do trigo, a qualidade do produto não deve ser problema nesta colheita. A ausência de intempéries climáticas em fases decisivas da cultura preservou as lavouras, resultando em otimismo quanto às perspectivas de negociação. A notícia é um alento aos produtores, que voltam a enfrenta falta de liquidez, mesmo com redução de 10% na colheita nacional.
Na Região Oeste do Paraná, onde a colheita foi praticamente encerrada, os produtores celebram o resultado favorável. E fatores como a redução da área plantada no estado e a quebra de safra em grandes players como Rússia, Argentina e Austrália devem garantir preços superiores aos de 2011.
Com perto de 310 mil hectares colhidos (40% da área plantada), o Paraná conclui que tem condições de atender as exigências dos moinhos. O sol que adia o plantio da soja favorece a colheita do trigo, conforme a Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab).
A Cooperativa Agrária, localizada no distrito de Entre Rios, em Guarapuava (região central do Paraná), recebe os primeiros lotes da safra atual para moagem. A produção vem das Regiões Norte e Oeste do estado. "As cargas que chegaram até agora apresentaram uma qualidade muito boa", relata Jeferson Caus, gerente de negócios da cooperativa.
Cerca de 20% das 400 toneladas processadas diariamente no moinho da Agrária são adquiridas em outras regiões. A empresa atende principalmente seus cooperados, que devem iniciar a colheita nas próximas semanas. O gerente confirma que os preços devem ser sustentados em um patamar superior ao da última safra. "[Os preços] estão mais altos do que no ano passado, mas ainda há um descompasso entre produtores e compradores pelo início da colheita. Em aproximadamente 20 dias deve haver um equilíbrio", pontua. Outro fator que intefere na comercialização neste momento são os leilões de estoques públicos, que reduzem o interesse dos moinhos pelo trigo privado.
Na C. Vale, cooperativa localizada em Palotina (Oeste), o desempenho do cereal também foi favorável. Os técnicos relatam que o peso hectolítrico (PH), um dos principais itens para a mensuração da qualidade, está entre os melhores nos últimos anos. Cerca de 7 mil toneladas, ou 34% da produção, foram negociadas.
O Sindicato da Indústria do Trigo (Sinditrigo), entidade representativa do setor no estado, confirma que a maior parte da produção vai atender as exigências dos moinhos. "Com o desenvolvimento da colheita em lavouras semeadas e colhidas mais tarde, a qualidade é de razoável para boa, atendendo à maioria das indústrias", avalia o vice-presidente da instituição e diretor dos Moinhos Globo, Giancarlo Venturelli.
O otimismo também pode ser notado no campo. Modesto Daga, produtor e consultor em Cascavel (Oeste), está animado. "A qualidade do trigo é extraordinária e a produtividade aumentou, garantindo um bom resultado". Com isso, a classificação também deve ser alta, dentro dos novos critérios que passam a valer nesse ano. "A qualidade é tão boa quanto a do produto internacional, pois o clima foi favorável", complementa.
Nelson Dalgalo, também de Cascavel, investe na cultura há mais de 30 anos e terminou recentemente a colheita de 150 hectares. Ele acredita que não faltará comprador. "Estou aguardando o mercado", diz. No ano passado, a qualidade da produção não lhe garantia a mesma confiança.
O fato de grandes fornecedores mundiais terem enfrentado quebra na produção também colaborou para uma evolução dos preços, explica Gilson Martins, assessor técnico e econômico da Ocepar. "Criou-se um cenário de oferta escassa e os preços subiram". A condição deve se manter para a próxima safra. Os três países devem produzir 76,5 milhões de toneladas na safra 2012/13, contra 100 milhões em 2011/12, conforme relatório do governo dos Estados Unidos.
Importações seguem por necessidade
Ainda que o trigo colhido até agora tenha boa qualidade, a importação do cereal deve continuar ocorrendo. No caso da Agrária, o gerente de negócios Jeferson Caus explica que a compra ocorre pois a produção tem diferentes destinos. "A questão não é qualidade, mas uso. O trigo argentino, por exemplo, é bom para certa finalidade à qual o produto local não serve", diz. Cerca de 20% do matéria-prima utilizada na unidade vêm do exterior.
O país terá de manter as importações pelo próprio déficit no abastecimento. A colheita nacional não cobre metade do consumo estimado em 11 milhões de toneladas de trigo ao ano. Neste ano, o recuo no plantio traz corte na produção de 15% no Paraná e de 10% no Brasil, para 2,1 milhões e 5,2 milhões de toneladas, respectivamente.
Mas, ainda que a demanda interna seja superior à oferta, parte da produção local é exportada, dependendo das cotações e do interesse dos compradores, aponta Gilson Martins, agrônomo da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). "O mercado é livre", resume. O Brasil exportou 1,9 milhão de toneladas de trigo neste ano, conforme a Secretaria de Comércio Exterior do governo federal.
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