No momento em que as plantadeiras começam a trabalhar a todo vapor nas lavouras das principais regiões agrícolas do país, o Brasil confirma potencial para retirar do campo recordes 195,49 milhões de toneladas de grãos na safra 2013/14. Se o volume for confirmado, o salto será de 8,4 milhões de toneladas, ou 5% acima das 187,09 milhões de toneladas colhidas no ano passado. O número faz parte da primeira projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para o ciclo que está começando e foi divulgado ontem em Brasília.
Após a apresentação do levantamento, o ministro da Agricultura Antonio Andrade revelou que há possibilidade de o país ultrapassar a marca de 200 milhões de toneladas. Até a conclusão da safra, novas projeções serão lançadas pela estatal mensalmente. Os números oficiais vieram em linha com o levantamento preliminar da Expedição Safra Gazeta do Povo, que desde julho deste ano apontava para o mesmo potencial. Nas próximas semanas, técnicos e jornalistas iniciarão roteiro em 14 principais estados produtores do Brasil, para acompanhar os trabalhos de plantio da safra de verão pelo oitavo ano.
Estrela
A soja continua sendo a estrela da temporada. Tem potencial para ocupar até 29,35 milhões de hectares e render 89,7 milhões de toneladas, 8,3 milhões de toneladas a mais do que no ano passado. O ganho de terreno da oleaginosa, de 5,9%, ocorre em função da perda de espaço do milho no verão. O produto vem sofrendo fortes desvalorizações no mercado interno brasileiro por conta do excesso de oferta, resultado de suas safras recordes no último ano, e de exportações em declínio. “A redução [da área de milho] se deve fundamentalmente à questão do preço, principal variável analisada pelos produtores. No Paraná, a saca de 60 quilos já atingiu o preço mínimo estipulado pelo governo. Em Mato Grosso, já está abaixo do mínimo”, lembra Eugênio Stefanelo, técnico da Conab no Paraná. Ele acredita, inclusive, que a produção total de milho no próximo ano pode ser menor do que a calculada pela Conab. Considerando as safras de verão e inverno, o órgão prevê que a oferta do cereal pode recuar para até 78,4 milhões de toneladas, 3,6% abaixo do ano anterior.
As apostas na soja ocorrem em meio a indefinições quanto ao futuro dos preços, mas o consenso no mercado ainda é de que há maior pressão de baixa sobre as cotações. “Temos hoje um cenário em que os rendimentos das lavouras nos Estados Unidos estão bem acima do que o mercado esperava. Isso força os preços para baixo. E essa estimativa da Conab aumenta a pressão”, afirma o analista de mercado da FC Stone, Vinícius Xavier. Ele destaca ainda que o país inicia a temporada 2013/14 com 15,6 milhões de toneladas de soja e milho em estoque, 9 milhões de toneladas a mais do que no ciclo passado. “E esse volume vai encontrar uma safra 89 milhões de toneladas de soja e mais de 70 milhões de toneladas de milho lá na frente, na colheita. Isso vai pressionar armazéns, fretes e portos e causar consequente deságio na formação preços”, avalia.
O salvaguarda dos produtores é o câmbio, que tende a amenizar a desvalorização dos produtos no Brasil e favorecer as exportações.
Plantio de soja no Paraná caminha em ritmo acelerado
Com a ajuda do clima, o plantio da safra 2013/14 no Paraná tem conseguido evoluir no mesmo ritmo que o do ano passado. Levantamento da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab) indica que os trabalhos de semeadura da soja foram concluídos em 17% da área a ser ocupada pela cultura neste ano. Nesta mesma época do ano passado, o porcentual era de 20%. No Oeste paranaense, região que tradicionalmente planta mais cedo em relação aos demais polos de produção do estado, a perspectiva é de que as máquinas terminem os trabalhos de campo até o meio deste mês. Já a região Centro-Sul é a última a finalizar o plantio da temporada.
Por enquanto, as previsões de clima são favoráveis ao desenvolvimento das plantações. O risco maior deve ficar para o final do ano, aponta Eugênio Stefanelo, técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no Paraná. “A meteorologia indica que vamos pelo menos até outubro com chuvas normais ou acima da média. Já entre dezembro e fevereiro, o clima neutro deve trazer maior irregularidade de chuvas”, avisa.
Segundo maior produtor nacional, o Paraná promete colher 16,7 milhões de toneladas de soja neste ciclo, 5% mais do que as 15,9 milhões de toneladas retiradas dos campos no ano passado. Já a colheita do milho de verão deve ser reduzida a 6,08 milhões de toneladas, 1 milhão de toneladas a menos do que na temporada anterior. Em tamanho de área e volume de produção, o estado lidera o recuo no quadro do cereal na estação mais quente do ano.