A JBS, maior do mundo em processamento de carnes, assumirá a liderança global no mercado de aves após a compra da Seara Brasil, do grupo Marfrig, por R$ 5,85 bilhões, em negócio anunciado ontem. O acordo firmado entre as empresas prevê que o montante total seja pago por meio de transferência de dívidas da Marfrig para a JBS. A Marfrig teve um faturamento de R$ 28 bilhões em 2012 e, com a venda da Seara Brasil, reduzirá em cerca de um terço a receita anual.A operação ainda deve depende de avaliação do órgão antitruste (Cade), mas a expectativa dos executivos é que a operação seja aprovada em um prazo de até 60 dias, uma vez que a JBS tinha uma participação relativamente pequena em aves e suínos no Brasil.
As dívidas da Marfrig são, essencialmente junto a bancos brasileiros (Itaú, Bradesco, Santander e HSBC). A Seara Brasil conta com cerca de 30 unidades de processamento e 21 centros de distribuição, além de empregar 45 mil colaboradores, que serão integrados pela JBS tão logo a transação seja aprovada pelo Cade. Com a venda, a Marfrig praticamente zera seu endividamento bancário. A JBS, por sua vez, encerrou o período com endividamento líquido de R$ 15,7 bilhões. “A estrutura da transação foi com o intuito de reduzir o tamanho da empresa para reforçar nossa estrutura de capital”, disse Sérgio Rial, presidente da Seara Brasil.
A empresa tem capacidade de abate de 2,6 milhões de aves por dia e de 17 mil suínos por dia, o que lhe dá uma participação entre 15% e 17% no mercado de alimentos processados no país.
De acordo com Wesley Batista, presidente da JBS, a compra da Seara Brasil é um movimento estratégico para o grupo e que permitirá a sua expansão no segmento de maior valor agregado e de maiores margens. Segundo ele, o endividamento da Seara, cujos vencimentos ocorrem entre este ano até 2017, não devem impactar significativamente a capacidade de operação do grupo que tem uma posição confortável de caixa, por isso, pretende continuar com sua estratégia de desalavancagem.
O faturamento anual da Seara é de R$ 8 bilhões e deve significar um acréscimo de 10% nas receitas da JBS, que foi da ordem de R$ 80 bilhões em 2012. Em abril, o presidente da Seara Foods e futuro CEO da Marfrig, Sérgio Rial, admitiu que a empresa teria de vender ativos para reduzir suas dívidas e alavancagem. Em maio, na divulgação do resultado do primeiro trimestre, Rial anunciou um plano de reestruturação da companhia, que previa a venda de três unidades da Seara e o fechamento de dois abatedouros de bovinos na Argentina.
Mudança
Grupo deve incorporar três plantas no Paraná
Líder nacional em produção e exportação de carne de frango, o Paraná conta atualmente com três unidades de abate e processamento de aves da Seara, que deverão ser incorporadas à estrutura da JBS Friboi assim que a negociação entre as duas empresas for liberada. As plantas estão instaladas na Lapa (Sul do estado), Carambeí (Campos Gerais) e Jacarezinho (Norte). No Brasil, a Seara tem 15 unidades de frango, uma de peru, seis de suínos, 17 de alimentos processados, além de 19 centros de distribuição – um deles em Curitiba. A empresa tem capacidade de processar, por dia, 2,6 milhões de frangos, 21 mil perus e 16,1 mil suínos e, por mês, 80 mil toneladas de produtos industrializados (pratos prontos congelados, pizzas, lasanhas, hambúrgueres, salsichas, linguiças, mortadelas e salames e cortes especiais de carne suína e de aves).
Compra ameniza risco de inadimplência
Cassiano Ribeiro
A compra da Seara Brasil pela JBS Friboi deve concentrar a produção e comercialização de produtos avícolas nas mãos de um grupo que já domina a bovinocultura no mundo. Mas, nem por isso é vista de forma negativa pelo setor. Além de deixar a disputa pelo mercado de carnes mais acirrada entre duas gigantes – JBS e BRFoods –, o negócio reduz o risco de inadimplência de pagamentos entre empresas e associados (criadores de animais), avaliam representantes da cadeia. “A JBS é considerada eficiente no mercado. A incorporação ajuda a manter empregos e a integração de produtores”, diz Péricles Salazar, presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). Ele acredita que a incorporação pode não ser benéfica para o consumidor final. “Quanto mais se concentra um negócio mais existem manobras de preços. O controle fica nas mãos de pouca gente”, alerta.
Domingos Martins, presidente da Sindiavipar, que representa a indústria avícola parananese, se mostrou entusiasmado com o negócio. Ele considera que a migração de ativos de um grupo para o outro ocorre em um momento importante para o setor paranaense e deve dinamizar as exportações do estado. “Esperamos que a JBS venha para avicultura com apetite e faça o que tem feito na bovinocultura. O Brasil está precisando alavancar os negócios no exterior e a empresa tem know-how para isso”, analisa.
Ele crê que o Paraná tende a sustentar sua posição no mercado internacional. Em abril, o estado abateu 5,7 milhões de cabeças de aves por dia. O número está atrás do volume do início do ano passado, quando eram abatidas mais de 6 milhões de cabeças.
Centro-Oeste
Cooperativas se unem e inauguram frigorífico em Ubiratã
Duas cooperativas do interior do Estado uniram forças e investiram R$ 135 milhões na construção de um frigorífico que inicialmente irá abater 80 mil aves diárias em Ubiratã, no Centro-Oeste do Paraná. A Copacol, com sede em Cafelândia, e a Coagru, de Ubiratã, fundaram a Unitá - Cooperativa Central, que será responsável pela unidade de abates. Entre 2002 e 2008, a Copacol e Coagru mantiveram uma parceria no sistema de integração no campo. Já a Unitá foi concretizada em outubro de 2011, quando começaram os preparativos para a construção do frigorífico, e marcou também a retomada da parceria entre as duas cooperativas.
Os colaboradores estão sendo treinados no abatedouro da Copacol e a previsão para o início do abate é 17 de junho. A meta da cooperativa é ampliar o abate para 180 mil aves ao dia no início de 2014 e chegar a 350 mil em 2017.