Entrevista com Francisco Krzyzanowski, pesquisador da Embrapa e presidente do Congresso Brasileiro de Sementes
A Lei de Sementes, que estabelece padrões para a produção e comercialização de sementes no Brasil, completa seis anos em vigência. Seus avanços e deficiências serão discutidos no 16º Congresso Brasileiro de Sementes. Durante o evento, também será apresentada a nova versão das Regras Brasileiras de Análises de Sementes, que lista os procedimentos de eficácia reconhecida. O pesquisador da Embrapa Francisco Krzyzanowski, presidente da comissão organizadora do congresso, conversou com a reportagem do Caminhos do Campo sobre a legislação brasileira de sementes e o uso de grãos não certificados.
A Lei de Sementes, em vigor desde 2003, tem funcionado para o segmento?
Houve mal uso da abertura às sementes de produção própria. A lei foi feita pensando na agricultura familiar, que não tem condições financeiras de usufruir de uma semente melhor. Mas, quando os grandes produtores fazem isso, estão usando da lei para buscar uma economia virtual, que na verdade não compensa, pois leva à baixa produtividade. O próprio mercado acaba resolvendo isso tirando esse produtor do setor, mas isso não nos impede de discutir o papel da lei neste cenário.
Quais as mudanças que as novas Regras Brasileiras de Análises de Sementes trazem?
As regras atualizam a lista de novas variedades e espécies reconhecidas e inclui novas metodologias de análise. Elas foram atualizadas de acordo com as regras internacionais, obedecendo aos mesmos padrões adotados em outros países. Isso representa uma facilidade no trabalho de exportação.
Já que a tecnologia é empregada nas empresas especializadas, os produtores estão desaconselhados a salvar grãos para replantio?
Orientamos ao produtor que use tecnologia, mas sabemos que este uso está atrelado à capacidade econômica dele. Mas, assim que o produtor puder, é vantajoso procurar as sementes para compra. Buscamos explicar ao produtor que existem mais vantagens na compra de sementes do que no replantio, ganhos em produtividade. As variedades crioulas podem ser interessantes localmente, mas há um teto de produtividade. Mesmo assim, a crioula não é um grande problema, ao contrário da pirata.
Como convencer o produtor de que a pirata é um mau negócio?
Quem vende semente mas é registrado como produtor de grãos não tem o respaldo legal para trabalhar neste segmento, porque não obedece a todos os procedimentos obrigatórios. A semente pirata pode até ser criada a partir de uma variedade de mercado e ser vendida com este rótulo, mas não tem a garantia de que o produto entregue é daquele cultivar. Na ponta do lápis, custa mais caro. Como sempre digo: semente não é só um grão que germina.
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